Os acessos críticos da economia europeia foram amainados, mas à base de um sedativo, € 1 trilhão, que infla preços em mercados de risco e valoriza o real.
O Congresso americano -mais precisamente os republicanos- refreou suas birutices e prorrogou reduções de impostos sem as quais a economia dos Estados Unidos poderia dar nova adernada.
Os indicadores americanos despioraram. Porém, petróleo caro demais por muito tempo também é uma espécie de imposto, que reduz o poder de compra do consumidor de lá.
O preço do petróleo poderia cair, pois Iraque e Líbia voltaram a produzir; a China anunciou ontem que vai crescer "pouco" (7,5%) em 2012. China e EUA consomem um terço do petróleo do mundo.
Mas a mera ameaça de guerra ao Irã levantou em 15% o preço do barril (tipo Brent) neste ano. De resto, a China crescer menos é boa notícia apenas para o preço do petróleo, não para o conjunto da economia mundial.
Não há desastre na China. Mas convém lembrar que, em anos de crise feia, como 2008 e 2009, a economia chinesa cresceu em média 9,4%. Em 2010, 10,4%. Antes da crise, em 2007, 14,2%.
O preço de outras commodities está numa biruta. No fim do ano passado, com as ameaças de colapso europeu, houve uma liquidação nos mercados, que então pareciam acreditar em recessão feia no mundo.
Agora, há reviravoltas no preço de grãos, pois baixou o medo de recessão, de crescimento ainda menor nos EUA e pode haver escassez de algumas comidas devido a problemas climáticos.
Tudo isso afeta o Brasil, claro. Afeta os mercados da combalida indústria e o câmbio, pode afetar a inflação ou o saldo comercial.
No que diz respeito ao crescimento de curto prazo (neste ano), há problemas domésticos também. O crédito anda devagar para a pessoa física, endividada, que tem menos crédito. Cresce o volume de crédito dos enforcados -no cheque especial e no cartão. A indústria apanha do câmbio e do crédito mais raro e caro.
Não se trata de alardear "crise". Há boas perspectivas para o investimento e o país continua com ótimo crédito. Há grandes obras engatilhadas. Etc. Mas está difícil o crescimento dilmiano, de mais de 4%.
Por ora, o problema maior é o governo usar anabolizantes para forçar um crescimento além da conta. Anabolizantes, ocioso dizer, criam ilusões temporárias, que fazem mal à saúde.
Uma dessas drogas é um possível excesso de mexidas no câmbio e de proteções a setores da indústria, o que pode gerar apenas ineficiência nos mercados e alguma inflação extra.
Outro receio é o governo gastar demais a fim de ganhar meio ponto percentual no PIB. Ou induzir bancos públicos a emprestar além da conta. Forçar o crescimento doméstico num ambiente global letárgico pode ter como resultado uma inflação um pouco mais alta, quando se pretende baixar os juros mesmo com uma inflação ainda altinha.