Folha de S. Paulo - 06/11/2008 | |
A EQUIPE de transição de Barack Obama é clintoniana. Não só. Desde a derrota de Hillary Clinton, economistas clintonianos se bandearam para Obama e abafaram a esquerda democrata, ao menos a julgar pelo protesto de sindicalistas e da ala de Robert Reich, secretário do Trabalho de Clinton, da linha do Nobel radical Joseph Stiglitz. Lawrence Summers, Timothy Geithner e Paul Volcker, diz a imprensa americana, seriam os candidatos a secretário do Tesouro. Qual o significado da aposta, por ora lotérica, nessa trinca de nomes? Summers, 53, e Geithner, 47, são variações sobre o mesmo tema. Summers foi secretário do Tesouro no final do governo Clinton (1999 a 2001), em que já ocupara os cargos de sub e vice-secretário do Tesouro. Sucedeu Robert Rubin (1995-99), seu "padrinho". Rubin, ora no conselho do Citigroup, é uma espécie de líder econômico clintoniano. Desde 2003, Geithner preside o Fed de Nova York, o braço operacional da política monetária americana. Assessora, pois, Ben Bernanke, na gerência da crise financeira, o que conta pontos a seu favor se a escolha for pela "transição suave", embora seja muito jovem. Não é economista nem teve posição acadêmica na área. Mas foi subsecretário do Tesouro sob Rubin e sob Summers. Rubin e Summers são ligados à Brookings Institution, instituto privado de pesquisa, onde Rubin lidera desde 2006 o Hamilton Project, um programa de pesquisas e debates sobre crescimento econômico e "inclusão" nos EUA. Jason Furman, 38, ex-diretor do Hamilton Project, foi o conselheiro de política econômica do final da campanha de Obama. Sua nomeação suscitou críticas dos sindicalistas. Foi levado para o governo Clinton por Joseph Stiglitz, mas acabou adotado por Rubin. Paul Volcker é uma "reserva moral" das finanças e do serviço público americanos. Debelou a grande inflação dos anos 70 -presidiu o Fed de 1979 a 1987, do final de Carter até quase o final de Reagan. Trabalhou no mercado e foi subsecretário do Tesouro sob Nixon (1969-74), quando ajudou a enterrar o padrão-ouro e Bretton Woods. Mas tem 81 anos. O "centrismo" dos clintonianos incomoda a esquerda democrata. Rubin, Summers e cia. foram responsáveis pela drástica redução do déficit público sob Clinton, são a favor de livre comércio, pelo menos eram contrários a muita regulação financeira e flertam com soluções de mercado para políticas de saúde e de educação. São, ou eram, totalmente "Terceira Via": são os tucanos americanos, por assim dizer. Nas últimas semanas, o grupo de Rubin tem se manifestado a favor de um grande pacote fiscal para atenuar a recessão. Acham que os impostos sobre os mais ricos devem voltar ao que eram sob Clinton. Passaram a dizer que a abertura comercial, a baixa dos sindicatos e a falta de investimentos públicos sociais e em pesquisa ajudaram a aumentar a desigualdade de renda nos EUA. Mas, claro, acham que os EUA precisam de um programa de recuperação fiscal de longo prazo, com foco nas despesas com saúde e com previdência. Será interessante ver como o programa de mudanças de Obama vai se casar com a perspectiva mais ou menos ortodoxa desse grupo. Ou Obama vai surpreender? |