Otimismo do Copom tem bases muito frágeis - EDITORIAL O ESTADÃO
Política

Otimismo do Copom tem bases muito frágeis - EDITORIAL O ESTADÃO



O Estado de S.Paulo - 09/06


Não se esperavam grandes novidades na ata da 167.ª reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que reduziu a taxa Selic para 8,50%.

O que se percebe no documento é uma visível preocupação com o clima internacional, especialmente com a Europa, e que agora pode se agravar pelo recuo da economia chinesa. É um quadro que afeta o comércio exterior do Brasil, reduz o ingresso de capitais e dificulta os empréstimos externos.

Tem-se a impressão de que, no texto, as autoridades monetárias tiveram a preocupação de justificar a afirmação de que a situação econômica já melhorou no primeiro trimestre e será melhor no segundo semestre. A base para essa expectativa repousa na presumível melhora da confiança dos consumidores e dos empresários, embora o texto não repita a ata anterior que se referia a um nível elevado da confiança destes, fundamentado no aumento das transferências públicas e na expansão do crédito para as famílias e para as empresas, na situação excepcional do emprego e na queda do descasamento entre demanda e oferta, que durante anos preocupou o Copom em razão de se constituir em fonte de inflação.

Trata-se de uma visão muito otimista. Concordamos com o Copom em que a transferência de recursos públicos, se for para realizar investimentos, teria um efeito altamente benéfico sobre a atividade econômica. Todavia, como já se verificou nos últimos meses, não basta querer realizar investimentos na infraestrutura, pois cabe saber administrar esses projetos e a um custo razoável.

A excelente situação do emprego pode mudar rapidamente, e já estamos registrando um aumento do desemprego. Existe a ilusão de que basta aumentar o crédito (o que em certas circunstâncias é um perigo) para que as famílias aumentem suas compras. Estamos, porém, diante de um quadro novo em que o aumento excessivo do endividamento conduz as famílias a reduzir seus gastos e a evitar novas dívidas, situação que pode se prolongar.

A mesma dose de otimismo aparece quando a ata afirma que "a contribuição do setor externo tem sido desinflacionária". Se isso é verdade até agora, podemos perguntar até que ponto vai durar. Hoje há uma desova do excesso de estoques de bens adquiridos a uma taxa cambial bem diferente da atual. Quando esses estoques se esgotarem, quais serão os preços exigidos? O Banco Central poderá intervir ainda para manter a nova taxa cambial a que se fixou?

A inflação deveria merecer muito mais cuidado da parte do Copom.



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