O Globo |
28/8/2008 |
A política externa brasileira segue dando indicações erráticas desde que, com a posse de Lula, em 2003, abandonou o curso internacionalista para retomar a superada visão de um mundo "injusto", dividido entre o Norte - rico e poderoso - e o Sul - pobre e explorado. Esse maniqueísmo convém à tendência de Brasília de prestigiar os companheiros ideológicos da América do Sul - principalmente Hugo Chávez, Evo Morales e Rafael Correa -, mesmo que isso não coincida com a proteção dos interesses nacionais. Foi o caso, por exemplo, da candura de Lula diante das iniciativas nacionalizantes de Morales, que se mostraram daninhas às necessidades do Brasil como comprador do gás boliviano e aos negócios da Petrobras. Rumos foram corrigidos e a candura substituída por mais realismo. Isso ficou evidente no fechamento da Rodada de Doha, em Genebra, quando o chanceler Celso Amorim aceitou a proposta de acordo do diretor-geral da OMC, Pascal Lamy, o que significava alinhar o país aos EUA e à União Européia e distanciar-se do Grupo dos 20 (países emergentes) e, mesmo, da Argentina, principal parceiro no Mercosul. Com o fracasso da negociação multilateral, cresceu o papel dos blocos comerciais e dos acordos bilaterais. O Mercosul vive um momento delicado com o pleito da Venezuela para se tornar membro pleno, questão pendente de aprovação nos Congressos de Brasil e Paraguai. Sob o regime bolivariano de Chávez, a Venezuela imobilizará o Mercosul, pois o próprio Chávez já disse que não aceita negociar com os EUA - que são o principal país das Américas e continuarão a ser durante muito tempo a maior economia do mundo. Mesmo assim, o chanceler Celso Amorim incluiu o ingresso pleno da Venezuela como uma das principais metas do Brasil, atualmente na presidência rotativa do bloco. Trata-se de uma recaída na política externa do companheirismo ideológico, bem embrulhada por Amorim na afirmação de que "um Mercosul que se estenda do Caribe à Terra do Fogo terá grande peso nas relações internacionais". Cresce, portanto, a responsabilidade do Congresso Nacional, uma vez que a entrada venezuelana significaria o isolamento internacional do bloco e, por extensão, do Brasil. |