Barack Obama ganhou. John McCain perdeu. Eu perdi com ele. Estou acostumado a perder. Meus candidatos quase sempre perdem. Quando um deles ganha, sempre dá um jeito de me envergonhar imediatamente. Por isso, é melhor assim. É melhor perder. Barack Obama ganhou de John McCain em praticamente todas as categorias sociais: eleitores com mais escolaridade, eleitores com menos escolaridade, negros, latino-americanos, mulheres casadas, mulheres solteiras. Ele só perdeu entre os homens brancos. Alguém muito tolo poderia acusá-los de racismo. Mas nos Estados Unidos o que acontece é exatamente o contrário: é o homem branco votar num candidato mulato apesar de acreditar que o candidato branco se sairia melhor no papel de presidente. Alguém muito tolo poderia imaginar que os homens brancos de Indiana, depois de fechar suas farmácias e suas lojas de ferramentas, colocam um capuz pontudo e saem por aí linchando os negros. Repito: alguém muito tolo. O debate racial nos Estados Unidos está mais para A Mancha Humana, de Phillip Roth, do que para O Homem Invisível, de Ralph Ellison. O que menos importa em Barack Obama é sua mulatice. Ele próprio acredita nisso. Ridiculamente, ele está sendo tratado por todos como um Nelson Mandela, e os Estados Unidos, como uma África do Sul dos tempos do "apartheid". Calma. Muita calma. Em seu primeiro discurso, na noite em que foi eleito, Barack Obama se comprometeu a resolver todos os conflitos internacionais sem recorrer ao poderio militar americano. Se a Igreja Católica se arrependeu publicamente de ter queimado Giordano Bruno, agora os Estados Unidos se arrependeram publicamente de ter enforcado Saddam Hussein, o herege copernicano das arábias. A imprensa americana errou na guerra do Iraque, publicando os relatórios passados pela Casa Branca e pelo Pentágono sem checá-los, sem apurá-los, sem investigá-los. Com Barack Obama, ela repetiu o mesmo erro. A imprensa pode apoiar um candidato, como apoiou Barack Obama, mas sem permitir que esse apoio interfira na cobertura dos fatos. O partidarismo dos jornais e das TVs contra os republicanos me incomodou tanto que, a certa altura, eu já estava defendendo apaixonadamente o Criacionismo. Quando Barack Obama foi eleito, protestei dormindo com um abajur aceso. Pensei que meu ato ajudaria a derreter a calota polar, inundando a sala de estar de um ou dois colunistas do New York Times. Depois me lembrei que eu também moro no litoral. E desliguei o abajur. Fui derrotado. Outra vez. |