A Polícia Federal prende 55 jovens de classe média que
traficavam drogas sintéticas. Um deles fornecia armas
e granadas a bandidos de uma favela no Rio de Janeiro
Ronaldo França
Fotos Guilherme Pinto/Extra/Ag. O Globo e Domingos Peixoto/Ag. O Globo |
TRAGÉDIA FAMILIAR Um dos presos sai com a PF do prédio onde vive com os pais. À direita, a mãe de outro acusado chora ao encontrar o filho |
Polícia Federal prendeu na semana passada, em duas operações simultâneas, 55 jovens de classe média acusados de participar do tráfico de drogas sintéticas, como ecstasy e LSD. Quase todos são moradores do Rio de Janeiro, mas tinham contato em pelo menos seis estados e no Distrito Federal. As drogas eram trocadas por cocaína na Holanda e trazidas ao Brasil num esquema que arregimentava pessoas pobres para o transporte. A ação da PF mostrou que o envolvimento desses jovens é muito mais disseminado do que se imaginava. É o que comprovam as 112 prisões já efetuadas ao longo de um ano de investigações – uma pequena parte do total de envolvidos, diz a polícia. O caso mais impressionante é o de Henrique Dornelles Forni, de 25 anos, que mora com os pais em um apartamento de cobertura na Lagoa Rodrigo de Freitas, região de classe média alta do Rio de Janeiro. Ele já havia mergulhado tão fundo no mundo do tráfico que arrendara duas bocas-de-fumo em uma favela da Zona Norte da cidade. Pelo menos quatro noites por semana, dava expediente como bandido, gerenciando o comércio de entorpecentes em cima das lajes da favela. Greg, como é conhecido, também fornecia armas e granadas aos traficantes.
O monitoramento telefônico feito nas duas operações da PF (batizadas de Nocaute e Trilha Albis) mostrou um comportamento comum a todos os jovens de classe média envolvidos com o tráfico. Eles têm uma vida dupla. "Nas conversas mantidas com os pais e familiares, mostram-se carinhosos, meninos de família. Quando estão fazendo negócios, usam o linguajar agressivo dos bandidos. É como se tivessem dupla personalidade", afirma o delegado federal Enrico Zambrotti Pinto. Quase tudo era vendido em festas rave, uma prova definitiva de que esses eventos são a principal razão da existência do tráfico de drogas sintéticas. Diz o titular da delegacia federal de entorpecentes do Rio, Victor Cesar dos Santos: "Isso é muito incentivado pela omissão dos pais, que veem seus filhos indo a essas festas, sabem o que ocorre lá e não fazem nada". Ajudaria também se a própria polícia e os governos estudassem formas de proibir festas desse tipo, a exemplo do que está sendo cogitado em vários países.