1983, campanha das Diretas, Já!, etc... Quem ousaria vaticinar que José Sarney, ainda presidente da ARENA, o partido da ditadura, acabaria dali a pouco tempo eleito presidente da República como candidato da oposição? Quem vaticinasse tal coisa seria metido em uma camisa de força e internado de imediato.
1988, final da Constituinte. Na época você ousaria dizer que o proximo Presidente da República seria um obscuro governador das Alagoas? Que seria deposto em seguida e substituído pelo obscuro senador mineiro Itamar Franco? Camisa de força para você se tivesse ousado dizer isso. Recolha-se ao hospital.
Como seria quem em 1992/3 arriscasse dizer que o bon vivant ministro das Relações Exteriores FHC estava fadado a ser o próximo presidente?
Pois é, eu sou eu e minhas circunstâncias.
Vamos para o bom exemplo das renuncias?
Em 1984, no fizinho da ditadura, Ulisses Guimarães, presidente do PMDB e o Senhor Diretas, Já!, abriu mão de ser candidato a presidente em favor de Tancredo Neves. E a unidade dos agentes politicos de então elegeu Tancredo (sob os aplausos dos brasileiros).
Franco Montoro, então governador de São Paulo, abriu mão da disputa pela presidência da República em 1989 e Mário Covas, uma das estrelas do recém-nascido PSDB, quase chegou lá.
Covas cedeu para OrestesQuércia a vaga de candidato a vice-governador em 1982 e foi recompensado com mais de 300 mil votos para deputado federal. Saiu no lucro e foi nomeado prefeito de São Paulo.
O mesmo Covas desistiu para Quércia de disputar o governo em 1986. Em compensação, recebeu naquele ano mais de 7 milhões de votos para o Senado.
Os maus exemplos?
José Serra, em 2002, impôs ao partido sua candidatura a presidente da República. Ganhou com isso a eterna inimizade do senador Tasso Jereissati (PSDB-CE). Apenas metade do partido o seguiu.
Por que lembro tudo isso?
Porque politica é o caminho das águas. Você não muda o curso de um rio, faça os acordos e tramas que fizer. E aqui entram os projetos politicos pessoais, a que todos têm direito, mas que todos deveriam saber que não podem se sobrepor a fatos e circunstâncias. Por mais mérito pessoal que cada um detenha.
Serra parece ter aprendido a lição, pois vindo do fracasso de 2002, foi candidato a prefeito de São Paulo, mas só quando seu nome uniu o PSDB. Então, pela primeira vez na vida, ele se elegeu para um cargo majoritário!
Em 2006, Serra poderia ter imposto sua candidatura para presidente, mas não o fez. Deixou que Geraldo Alckmin impusesse a dele. Resultado? Alckmin fracassou. E Serra, louvado por seu gesto de despreendimento, se elegeu governador no primeiro turno.
Em 2008, será que aprendemos a lição?
Parece que só Serra, que não impôs sua vontade ao partido. Alckmin o fez novamente. Sua candidatura não foi construida. E os frutos aí estão.
O caminho natural das águas daria o direito ao atual prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), de tentar se reeleger com o apoio do PSDB com quem governa. PSDB e DEM estão coligados em São Paulo há mais de 10 anos. E é sempre o DEM que fica com o lugar de vice.
Se o natural prevalecer, Serra colherá outra vitória - dessa vez com a reeleição de Kassab. E novamente Alckmin sairá derrotado. Isso será particularmente ruim para os paulistas que desaprovam o PT. Alckmin seria um forte nome para a sucessão de Serra.
Antônio Carlos Rizeque Malufe é fundador do PSDB. Fli ex-secretário particular de Mário Covas e é secretário-particular do prefeito Gilberto Kassab