A justificativa do ministro Guido Mantega para a compra da Nossa Caixa pelo Banco do Brasil é a de que a economia precisa ter bancos fortes, não só para enfrentar crises como a atual, mas também para fortalecer a própria economia brasileira.
A afirmação está correta. A rede bancária brasileira precisa ter escala, precisa ter condições de competitividade no mercado internacional e precisa estar em condições de pavimentar o crescimento do País no resto do mundo. Com bancos pequenos atrás dos seus negócios, o Brasil nunca poderia ir muito longe nem ser uma economia forte. E, à medida que a economia se globaliza, os bancos estatais precisam estar em condições de atuar globalmente.
O problema é que isso tem um custo - a concentração bancária -, o que aprofunda o jogo oligopolista dos bancos no mercado interno. E isso implica redução das condições que garantem menor custo e melhores condições para o correntista e para o tomador de crédito.
Os bancos estatais brasileiros padecem de três enormes problemas crônicos. O primeiro deles é o clientelismo. Qualquer maioral da política se julga no direito de obter favores especiais, como o do adiamento indefinido de pagamentos de dívidas. Pior que tudo, muitos conseguem o que querem. E às vezes são setores inteiros que se penduram no Banco do Brasil, como o dos produtores rurais.
O segundo é a enorme dificuldade que têm de atuar no mercado interno como força capaz de derrubar os custos financeiros de toda a rede bancária. Paradoxalmente, os bancos oficiais no Brasil operam com juros e tarifas tão ou até mais altos do que os cobrados pelo setor privado. E essa prática acaba sendo justificada pela sua direção com o argumento de que é preciso lucro alto para garantir a expansão.
E o terceiro problema é a falta de compromisso com a boa governança. De tempos em tempos, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal precisam de substanciais injeções do Tesouro para adequar seu capital ao volume de ativos que carregam. É o que caracteriza "excessiva alavancagem".
Na medida em que é o próprio setor financeiro estatal que se concentra, os mesmos problemas tendem a se acentuar, porque até mesmo a competição entre bancos estatais se enfraquece.
Tudo indica que o Brasil ficou acanhado demais para os bancos brasileiros e para os próprios bancos estatais. Daqui para a frente, são poucas as instituições de algum porte que poderiam ser incorporadas, como aconteceu com essa compra. E, nesse jogo, os bancos privados têm mais iniciativa e mais capacidade de decisão, na medida em que o processo deles envolve apenas capitais privados.
A partir de agora, para obter densidade suficiente para ter atuação global, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal terão de definir uma estratégia de crescimento para fora do País, o que necessariamente implicaria incorporação de instituições financeiras no exterior.
O momento de crise internacional talvez seja o mais propício para traçar um plano de longo prazo nessa direção.
Confira
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