Política
Por quem os juros caem Carlos Alberto Sardenberg
O GLOBO
Parece que a queda dos juros no Brasil é uma questão de vontade, algo entre a política e a moral. Seria mais ou menos assim: os juros não caem porque os banqueiros não deixam e o governo não tem a disposição ou a vontade de forçar a derrubada. Fariam parte desse esquema os diretores do Banco Central, pessoas que estariam a serviço do sistema financeiro, não por dinheiro, mas por identidade profissional.
A substituição do presidente do Banco do Brasil, no contexto de uma operação para forçar a queda dos juros, parece confirmar que o governo Lula pensa mais ou menos assim.
Ocorre que a existência de dois grandes bancos públicos no varejo prejudica a tese. A conspiração teria de começar pelos banqueiros privados, que combinariam entre si o nível das taxas de juros. Essa prática, em si, já é difícil de acontecer. São bancos nacionais e estrangeiros, que disputam mercados, além de uns tentarem comprar outros, mas digamos que ocorra um cartel implícito.
Nenhum banco tomaria a iniciativa de romper o status quo.
Mas não faz sentido imaginar que os diretores do BB e da Caixa Econômica Federal participem da conspiração, especialmente quando o presidente Lula, o chefe deles, declara-se "obsessivo" com a derrubada dos juros.
Acrescente a isso que o Banco Central estuda esse assunto, no detalhe, pelo menos desde 1999, quando divulgou o primeiro documento sobre o spread bancário (a diferença entre o que os bancos pagam pelo dinheiro e quanto cobram do cliente, pessoa física ou jurídica, na ponta).
Há, portanto, uma dimensão técnica do problema, a partir da qual o BC tomou algumas medidas. Mas não importa, para o momento, o teor dessa argumentação técnica. O propósito aqui é mostrar que há duas abordagens nessa história, uma que vai pela política, ética e, claro, pela conspiração, e outra que segue pela teoria econômica. Na primeira, a coisa é simples: o presidente manda, os bancos públicos derrubam os juros e forçam os privados a fazer o mesmo.
Pela abordagem econômica, os juros, na ponta final, só cairão expressivamente depois de realizadas várias reformas microeconômicas (cadastro positivo, garantias jurídicas do crédito, regras que impeçam o devedor de adiar o pagamento por anos a fio, e por aí vai).
Não é simples encaminhar essas reformas. Há dificuldades econômicas e políticas. Já na abordagem política não haveria problemas. O presidente quer e ponto final.
Por que, então, Antonio Francisco de Lima, ontem afastado da presidência do BB, não realizou essa missão, mesmo correndo o risco de perder seu emprego? Não seria razoável supor que talvez não seja tão fácil assim reduzir os juros? Mas não. Em vez dessa hipótese, o governo preferiu pensar que faltou a Lima ou vontade ou competência.
Na sua gestão, Lima conseguiu um belo lucro para o banco — mas parece que esse não é o critério. Vários membros do governo disseram que um banco público não precisa lucrar tanto assim.
O que leva a outro aspecto da história, o de que empresas públicas, aí incluída a Petrobras, por exemplo, há outras funções prioritárias que não a de dar lucro. (A propósito, se for isso, seria preciso explicitar, porque há milhões de pessoas e inclusive fundos de pensão de trabalhadores de estatais comprando as ações dessas empresas para garantir aposentadorias.) Voltando aos juros, o novo presidente do BB, Aldemir Bendine, assumiu com o compromisso de ser bastante agressivo na concessão de crédito.
Quer dizer, emprestar cada vez mais dinheiro, fazer um volume maior de negócios, esperando que isso reduza o custo das operações e, pois, os juros. Isso, sabendo-se que bancos estatais têm custos mais pesados que os privados.
Veremos. Convém lembrar que: 1) a crise do subprime nos EUA começou com a determinação do então presidente Bill Clinton para que as agências hipotecárias fossem mais agressivas nos empréstimos, ou seja, emprestassem mais, a juros menores. Fizeram isso e quebraram, mas depois de deixar anos de glória para Clinton, durante o boom da construção; 2) faz uns dez anos, apenas, que o governo FHC teve de colocar R$ 8 bilhões para salvar o BB, quebrado que estava pela prática de emprestar politicamente.
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