Qualquer aeroporto do mundo pode fechar por algumas horas. A confusão que vi em Congonhas era desproporcional ao tamanho do atraso. O que detona um caos como aquele?
- Primeiro, faltam no controle aéreo brasileiro programas mais modernos e inteligentes de aproximação, pouso e decolagem. Se os programas não fossem tão velhos, as aeronaves poderiam pousar apesar das condições meteorológicas. O Brasil precisa comprar tecnologia de ponta de sinalização de torre de controle. Segundo, precisa haver melhor gestão de atendimento em terra; melhor sistema de informação. Imagina um gringo perdido com aquele som péssimo e ninguém para informar? Ele perde o voo - diz Paulo Fernando Fleury, do Instituto Ilos.
Fleury, especialista em logística, já perdeu voo dentro de aeroporto por causa das costumeiras trocas de portão.
Uma menina de menos de 10 anos passa por mim apressada.
- Mãe, nosso voo passou para o piso inferior. O piso inferior, mãe! - diz, já ligada, como se fosse adulta.
Mais de duas da tarde do sábado, meu voo tinha sido cancelado, eu estava sentada perto do portão de um voo que teria que ter saído às 12h20m. No portão estava escrito "embarque próximo". E assim ficou o aviso, subvertendo o sentido da palavra "próximo" por uma hora. Depois, piorou; o nome Rio de Janeiro sumiu e apareceu a palavra Ilhéus. Não era possível trabalhar, porque todo mundo tinha que seguir o comportamento da menina e ficar ligado em tudo, tentando ouvir o ruído do som no meio do burburinho.
Tinha chegado ao aeroporto de Joinville pouco depois das 7h. Não havia nevoeiro em Joinville. Nem avião. O pátio, inteiramente vazio. Congonhas, fechado; o avião não tinha decolado, portanto, não tinha pousado e não decolaria. Por enquanto.
- Esse é um dos problemas. O Brasil organizou-se no sistema de Hub. Alguns aeroportos originam todos os voos ou são escalas obrigatórias, como Congonhas. O problema é que se houvesse uma tecnologia moderna de pouso e decolagem eles fechariam com menos frequência e isso evitaria problemas que ocorrem em sequência - explica Fleury.
A certa altura, as malas e a escada foram levadas para a pista de pouso. Nada da aeronave. Quando, afinal, decolou rumo a São Paulo, parecia que apenas uma parte da manhã estava perdida, mas o pior estava por vir. O avião não conseguia pousar pelo engarrafamento do trânsito aéreo. Isso acontece com frequência. Os aviões ficam esperando a hora de entrar na fila de pouso. Depois que pousou, foi o tempo de esperar a escada e o ônibus em Congonhas. No caminho até o terminal, a pista engarrafou de ônibus e tratores que puxam escadas. Era o caso de um semáforo. Houve um momento em que um trator atravessou o caminho do meu ônibus. O motorista parou em tempo, felizmente.
O saguão parecia uma praça de guerra, com monte de gente andando em todas as direções, ninguém para dar informação. Vi uma tripulação perdida e a acompanhei com os olhos, curiosa. De repente, alguém de dentro do portão grita:
- Oi gente, é por aqui, por aqui!
As informações eram dadas pelos passageiros:
- O avião já pousou, mas não se sabe o aeroporto.
O especialista no tema Respício do Espírito Santo conta que uma resolução baixada recentemente proíbe que um voo de Congonhas pouse em Guarulhos:
- Por isso, se Congonhas tem problema, o voo tem que ir para Viracopos, que também fecha muito, então tem que ir para Ribeirão Preto ou outro aeroporto. Pior que esperar é ir para outro local. Quanto custa para quem passa horas no aeroporto? Quanto custa em termos de estresse do controlador de voo, da tripulação? Quanto custa para a empresa aérea?
Quando o nome Rio de Janeiro sumiu do letreiro do portão e apareceu Ilhéus, decidi ir ao painel central. Lá, encontrei duas pessoas com o uniforme da companhia pela qual eu voaria. Estávamos com a mesma cara de desalento e descobrimos juntos que na frente do nosso voo estava escrito "procurar a companhia".
- Como procuro a companhia?
- Nós somos da companhia.
- Percebi pelo crachá, mas não queria constrange-los. Onde posso buscar informação?
Eles apontaram o dedo para o tumulto lá adiante em torno de um balcão.
Impossível chegar perto, ouvir qualquer orientação. Eram camadas de pessoas nervosas. Fiquei lá à deriva, até que ouvi o grito de um dos tripulantes que tinha encontrado no painel:
- Míriam, é no portão 13, corre, corre.
Era meu dia de sorte. Consegui chegar no Rio às 17h30m, dez horas e meia depois de entrar no primeiro aeroporto.