3/9/2008 |
A descoberta de reservatórios na camada de pré-sal foi um grande acontecimento. Além de garantir o abastecimento interno dessa importante fonte de energia e matéria-prima industrial por muitas décadas, os reservatórios do pré-sal poderão transformar o Brasil em forte exportador de hidrocarbonetos e derivados. Trata-se de uma oportunidade única, pois simultaneamente essa receita deverá ser capaz de assegurar um longo horizonte de tranqüilidade nas contas externas brasileiras - cujo desequilíbrio, no passado, foi estopim de várias crises agudas - e estimular o desenvolvimento de toda uma cadeia produtiva de alta tecnologia, já que a exploração do pré-sal está na fronteira do conhecimento no setor. Mas, para que esses recursos minerais se tornem efetivamente uma riqueza, será preciso mobilizar investimentos vultosos. A Petrobras percebeu isso anos atrás ao buscar parceiros para a fase exploratória. Ainda que, com as descobertas feitas, o risco tenha diminuído, a fase de desenvolvimento envolve enormes desafios operacionais, financeiros, tecnológicos e gerenciais. Antes mesmo que esses desafios comecem a ser superados o governo resolveu, por interesses político-ideológicos, pôr em questão o modelo de abertura e competição adotado no Brasil para a indústria do petróleo. A partir da premissa, que somente será confirmada na prática e não tão rapidamente, de enriquecimento por conta dos reservatórios de hidrocarbonetos que devem existir na camada do pré-sal, ministros e até o presidente Lula vêm declarando que a regra do jogo tem de mudar totalmente. Com isso, a indústria se mostra perplexa e é possível que toda essa discussão esdrúxula acabe retardando investimentos, que de fato serão o instrumento para fazer o petróleo virar riqueza. Ontem, simbolicamente, foi extraído o primeiro petróleo do pré-sal em escala comercial, no campo de Jubarte (Espírito Santo). Pelo tom dos discursos oficiais na solenidade, tudo indica que o governo, infelizmente, não deixará de tratar o pré-sal como bandeira de exploração política, assim como fez com o precipitado anúncio da auto-suficiência na produção de petróleo. Este ano, o Brasil terá um déficit de US$8 bilhões na balança comercial de óleo e derivados. |