BRASÍLIA - Por volta do início de março, os brasileiros assistimos a
uma propaganda estatal na TV sobre a ascensão do sexo feminino. Era
para comemorar o Dia Internacional da Mulher. "No Brasil de hoje, ela
tem a oportunidade de ser o que quiser", dizia o comercial de 30
segundos, ainda disponível em //bit.ly/video-mulher.
Nada contra, tudo a favor de enaltecer a mulher. Mas tudo muda quando
há dinheiro público. Uma campanha de vacinação ou de prevenção da
dengue é sempre bem-vinda. Só que falar sobre como o mundo está mais
amigável para o sexo feminino não tem nada a ver com interesse
público.
Aliás, a ideia-força da edulcorada propaganda contém um erro de
concepção. Induz ao autoengano. Machismo e sexismo estão longe de
acabar na sociedade brasileira.
Esse tipo de peça publicitária sem nexo é exemplo do descontrole da
publicidade estatal. O governo nem sequer revela quais são os milhares
de veículos receptores dos recursos para transmitir ou publicar os
comerciais. No Brasil, a publicidade chapa-branca imita o universo:
está em expansão. Lula bateu recorde atrás de recorde. Em 2010, seu
gasto atingiu R$ 1,629 bilhão. Em oito anos, R$ 10,3 bilhões.
Em nível local, a situação é pior. Ficam em segredo até os valores
globais investidos em propaganda em todas as mais de 5.000 prefeituras
e nos Estados. Somados, devem resultar no maior gasto publicitário
estatal do planeta Terra.
Dilma Rousseff assumiu o Planalto neste ano. Com reputação de boa
administradora, terá a oportunidade de analisar a qualidade dos
investimentos realizados pelo governo federal em publicidade.
Gastar dinheiro para dizer que a mulher "tem a oportunidade de ser o
que quiser" não parece ser a prioridade de um país que anunciou cortes
de R$ 50 bilhões em seu Orçamento. Dilma ainda tem algum tempo para
refletir sobre a política de seu governo nessa área.