30 Novembro 2014
Para atrair investimentos e voltar a crescer, o governo brasileiro precisa voltar a promover reformas estruturais. Esta é a visão sobre os possíveis rumos do Brasil nos próximos anos que a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) apresentou, em recente teleconferência, a jornalistas latino-americanos. A entidade reconhece que a necessidade de reformas não é uma exclusividade brasileira - outros países da América Latina também têm similar desafio -, mas isso não significa minimizar os efeitos deletérios que o descaso com as reformas vem produzindo na economia brasileira. A OCDE reiterou que a sua previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro para este ano é de 0,3%.
Segundo a OCDE, é importante que o governo seja consciente de que, para crescer, é preciso criar condições para os investimentos. Em outras palavras, cabe ao governo realizar um trabalho prévio que favoreça o investimento. "O Brasil tem muito trabalho a fazer para se tornar um país mais amigo do investimento", afirmou Álvaro Pereira, diretor de estudos da OCDE. Segundo a entidade, essa tarefa se concretiza no esforço por levar adiante as reformas estruturais de que o País tanto necessita, a começar pela tributária.
A história recente do Brasil comprova tanto a necessidade das reformas quanto a sua eficácia. "Nos anos 1990, o País executou reformas muito importantes para obter a estabilidade macroeconômica. Nos últimos 15 ou 20 anos, isso foi muito importante para o Brasil atrair investimentos", afirmou o diretor de estudos da OCDE.
Na prática, ao longo dos últimos anos, o governo brasileiro não se empenhou em levar adiante as reformas, como se fosse suficiente a execução de algumas políticas sociais. No entanto, esse descuido com as reformas pode pôr a perder tanto o que já havia sido conquistado em termos macroeconômicos quanto o que se conquistou com as políticas sociais. Segundo a OCDE, o foco do governo deve ser a retomada do roteiro iniciado há duas décadas. "Agora, é muito importante que o governo pense que os próximos anos sejam dedicados às reformas estruturais. (...) O Brasil deve executar reformas para aumentar o investimento. É muito importante que o País tenha mais recursos, especialmente em infraestrutura. Também é preciso um clima melhor de negócios e a melhora do sistema de impostos, principalmente os indiretos", disse Pereira.
Ter o foco nas reformas não significa ignorar o curto prazo. Seja para não perder o que já foi alcançado, seja para viabilizar as novas reformas, o economista da OCDE para o Brasil, Jens Arnold, diz ser "importante que a nova equipe econômica continue com a estabilidade macroeconômica que o Brasil alcançou nos últimos anos". Para Arnold, "o País fez muito esforço e obteve muitas conquistas. É importante que os agentes econômicos continuem com a percepção de que a estabilidade macroeconômica é inquestionável no Brasil". O economista apontou que, nos próximos anos, a política fiscal e a inflação devem ser as variáveis que exigirão mais atenção da equipe econômica brasileira.
A respeito do escândalo de corrupção na Petrobrás envolvendo grandes empreiteiras e os seus efeitos sobre a confiança do investidor interessado em infraestrutura, os técnicos da OCDE reconhecem que a situação gera preocupação, mas esperam que seja bem resolvida. Em relação às perspectivas de crescimento da economia brasileira, a OCDE manteve as suas recentes previsões. Segundo a entidade, após ligeiro período de recessão, o País deverá voltar a crescer, terminando o ano com expansão do PIB de 0,3%, ou seja, manteve a previsão divulgada em setembro, muito distante daquela anunciada em maio (1,8%).
Se, como o afirma a OCDE, o Brasil tem pela frente um longo caminho para reatar uma boa relação com os investidores - retomando as necessárias reformas -, o melhor é o governo começar a percorrê-lo o quanto antes, ciente da sua responsabilidade nessa tarefa.