Aplicada na semana passada por encomenda do governador Eduardo Campos, pesquisa de opinião conferiu que 82% dos eleitores de Pernambuco avaliam como ótimo e bom o desempenho de Lula. Mas se tivessem de escolher, hoje, o próximo presidente, 41% votariam em José Serra, 18% em Ciro Gomes, 12% em Heloísa Helena e apenas 4% em Dilma Rousseff.
Cuidado com o poste aí, Lula. Poste com pretensão de se eleger qualquer coisa precisa de um mínimo de luz própria. Vejam o caso de Márcio Lacerda (PSB), eleito prefeito de Belo Horizonte com o apoio de Fernando Pimentel (PT), o atual prefeito, e do governador Aécio Neves (PSDB).
No primeiro turno, Lacerda foi ofuscado pelo brilho de Pimentel e de Aécio. Foi vendido como um verdadeiro poste. Aí cresceu Leonardo Quintão (PMDB), o falso caipira, que até carregou no sotaque mineirinho para atrair mais votos. Deu certo. Foi para o segundo turno.
Somente os iniciados nos segredos da campanha em Belo Horizonte souberam que Quintão recebeu a ajuda discreta e eficiente do governador José Serra (PSDB). Não faltaram doadores de dinheiro para a campanha dele. Serra não perdoa - mata. E tinha razão para não perdoar.
Aécio deu corda em Geraldo Alckmin para que se lançasse candidato a prefeito de São Paulo contra a vontade de Serra. Uma vez eleito, Alckmin jogaria em favor de Aécio para que ele fosse o candidato do PSDB à sucessão de Lula.
Serra aplicou um torniquete tão forte em Alckmin que ele acabou em terceiro lugar. Empurrou Gilberto Kassab (DEM) para o alto. Ajudou Marta Suplicy (PT) a se enterrar. E ainda encontrou tempo para dar uma mãozinha a Quintão.
O segundo turno em Belo Horizonte foi uma baixaria só. Cada um dos candidatos chegou a ser rejeitado por 42% dos eleitores. Faltou a Quintão couro forte para resistir a tanta pancada. Lacerda venceu porque finalmente se apresentou como candidato. Deixou de ser um mero poste apagado.
Ainda não se sabe quando, nem como, nem se Dilma de fato deixará um dia de ser poste. Por ora, e como poste, ela presta relevante serviço a Lula. Como ele poderia brecar o surgimento de outros candidatos dentro do PT se não tivesse logo se adiantado e dito que tem um?
Da mesma forma, como poderia evitar temporariamente a dispersão dos 13 demais partidos aliados do governo se não acenasse para eles com a perspectiva de uma candidatura que no futuro poderá se tornar viável?
De resto, Dilma representa outra vantagem para Lula. Se ela não decolar nas pesquisas de intenção de voto até meados do próximo ano sairá de campo sem reclamar e agradecida. A candidatura ao governo do Rio Grande do Sul seria um justo prêmio de consolação para ela.
Lula não insistirá com um candidato sem chances de vencer salvo se abdicar da pretensão de influir na escolha do seu sucessor. E ele está longe disso. Presidentes rejeitados tentaram fazer seu sucessor – quanto mais um tão popular que só pensa em ser presidente de novo.
É verdade: depois de ter sido reeleito, Lula cogitou durante certo tempo em disputar um terceiro mandato presidencial consecutivo. Consultou amigos de confiança a respeito e até mesmo alguns governadores. Não encontrou boa receptividade à idéia. Desistiu dela.
Quero dizer: desistiu de enfrentar uma dura batalha para mudar a Constituição e concorrer a um novo mandato em 2010. Mas não desistiu de se eleger presidente outra vez. Gostou das obrigações do cargo. Gostou das miçangas do poder. Quem não gostaria?
Lula quer voltar em 2014. Ou no ano seguinte caso acabe a reeleição e se aumente o mandato presidencial de quatro para cinco anos.
Mais de uma vez Serra já disse que topa trocar o fim da reeleição por um mandato de cinco anos. Aécio Neves também. O Congresso é permeável à proposta.
Se a reeleição acabar, Lula poderá ir com Dilma para perder. Outro então que administre os efeitos da crise financeira mundial, até um dia desses chamada por Lula de marolinha