Política
Sem euforia - CELSO MING
O Estado de S.Paulo - 08/08
A inflação de julho (evolução do IPCA) veio dentro do esperado, de apenas 0,03%. Com isso, a inflação em 12 meses, que em junho estava nos 6,70%, caiu para 6,27% (veja gráfico).
A presidente Dilma e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, comemoraram como têm mesmo de comemorar uma inflação mensal perto do zero. Mas, sem a mesma dose de razão, condenaram o que a presidente Dilma chamou de "estardalhaço" produzido nos últimos meses com a disparada dos preços, como se essas apreensões fossem infundadas. A inflação pode não ter descarrilado, mas provocou, sim, enormes estragos no poder aquisitivo do trabalhador e foi fator importante de erosão da confiança no desempenho da economia. E isso não pode mesmo ser tolerado.
A inflação saltou para acima da área de escape porque o governo tentou comprar mais crescimento econômico com mais inflação. Por isso, permitiu a expansão excessiva das despesas públicas. A manobra deu errado porque, além de não ajudar na recuperação do PIB, acabou por produzir mais inflação.
É um equívoco garantir que os números positivos de julho tenham vindo para ficar. Eles são temporários. Em parte, foram construídos com artificialismos. A derrubada das tarifas dos transportes urbanos, em consequência das manifestações de junho, além de não se repetir nos próximos meses, aconteceu à custa de subsídios e de quebra de investimentos públicos. Há meses a inflação só não saltou ainda mais porque o governo mantém represados os preços dos combustíveis, hoje cerca de 20% mais baixos do que os níveis internacionais, porcentual que tende a subir na mesma proporção em que vier a acontecer a alta das cotações do dólar em reais. Por falar nisso, será inevitável, também, certo repasse da desvalorização cambial para a inflação, à medida que os produtos importados forem encarecendo em reais.
A queda da inflação de julho também deve muita coisa à redução de quase 1,0% nos preços dos alimentos, fator que também não se repetirá. Ao contrário, nos próximos meses será irremediável certa recomposição desses preços.
As projeções do mercado para a inflação de agosto, tal como medidas pela Pesquisa Focus, do Banco Central, são de 0,30%. Se esse número se confirmar, a inflação em 12 meses deverá cair alguma coisa, mas continuará acima dos 6%.
A inflação continua espalhada demais. O índice de difusão (número de itens da cesta do consumo com alta de preços) mantém-se alto, em 55%. Também prossegue forte a concentração da alta nos serviços. Em 12 meses, ficou nos 8,5% (veja o Confira).
Como nem a inflação mensal próxima do zero nem a inflação anual na meta (4,5%) estão garantidas (entre outras razões, porque a política fiscal não ajuda e porque o mercado de trabalho continua aquecido), o Banco Central deverá prosseguir com a política de aperto monetário (alta dos juros). Boa pergunta está em saber aonde vai parar. Como há alguns meses o governo Dilma definiu como ponto de honra juros básicos de um dígito, algumas análises sugerem que o Banco Central tudo fará para ficar abaixo dos 10% ao ano. A conferir.
loading...
-
E Brasil Do Tomate Da Rede Globo Vai Se Exaurindo.ipca-15 Aponta Inflação Próxima A Zero Em Julho
IPCA-15 aponta inflação próxima a zero em julho Índice ficou em 0,07% no período, taxa inferior à de junho, quando foi registrada alta de 0,38%; principais contribuições para o recuo...
-
Celso Ming -esqueçam O Que Escrevi
O Estado de S.Paulo O Banco Central parece ter-se encolhido às lambadas recebidas da área econômica do governo. Depois de passar meses denunciando "o balanço do setor público em posição expansionista", ou seja, denunciando as despesas...
-
Celso Ming Deixa Rolar
CELSO MING - O Estado de S.Paulo O ministro da Fazenda, Guido Mantega, voltou ontem a garantir que a inflação está em queda e que vai continuar caindo. É uma declaração que, em parte, tem a função de ajudar a varrer o surto de pessimismo que...
-
Celso Ming A Inflação Perde Força
O que fica agora para ser discutido não é mais se os juros básicos (Selic) vão ser cortados, mas quanto vão ser cortados. Uma redução de 0,25 ponto porcentual agora parece pouco diante da força do recuo da inflação. Os números do IPCA vieram...
-
Virada Dos Preços Celso Ming
A inflação começa a se esvaziar, como o comportamento do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) já está demonstrando. Em agosto avançou apenas 0,28%, quase a metade do que aconteceu no mês anterior (0,53%), o melhor...
Política