A inflação começa a se esvaziar, como o comportamento do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) já está demonstrando.
Em agosto avançou apenas 0,28%, quase a metade do que aconteceu no mês anterior (0,53%), o melhor resultado mensal desde julho de 2007. Medida em 12 meses, caiu dos 6,37% (em julho) para 6,17% (em agosto) e tende agora a baixar ainda mais. Esse recuo não pode ser atribuído à ação dos juros mais altos. O aperto monetário começou apenas em abril e, de lá para cá, não houve tempo para que tivessem algum efeito sobre os preços, uma vez que a terapia dos juros leva alguma coisa entre seis e oito meses para fazer efeito.
O principal fator que ajudou a derrubar a inflação foi a queda dos preços internacionais dos alimentos, que começou com a derrubada das cotações das commodities agrícolas. No período de 60 dias terminados em 28 de agosto, as cotações internacionais do milho caíram 25,8%; as da soja, 14,9%; e as do trigo, 13,5%. O custo da alimentação pesa 22,9% no IPCA e, em agosto, sua evolução foi negativa: caiu 0,28% sobre a posição do mês anterior.
O comportamento dos preços aferidos por todos os indicadores conseguiu reverter a expectativa dos agentes econômicos e essa é certamente a principal mudança que se verifica hoje na economia. Os últimos levantamentos da Pesquisa Focus, feitos semanalmente pelo Banco Central, já acusam esse dado. Na última semana de agosto, por exemplo, o mercado já mostrou que passou a trabalhar com uma inflação ligeiramente mais baixa para todo o ano de 2008. É provável que os números a serem revelados segunda-feira mostrem uma queda ainda maior.
A questão inevitável agora é saber o que o Copom está aprontando para a próxima quarta-feira, quando revir os juros. Desta vez, apesar da reversão das expectativas e da inflação em queda, poucos analistas apostam em que baixará a dose de 0,75 ponto porcentual adotada em julho.
O indicador mais importante de que assim será é o discurso do Banco Central. Seus dirigentes continuam convencidos de que a demanda está aquecida demais e que é preciso contê-la.
Esse ponto de vista foi reforçado por seis elementos objetivos: (1) o núcleo da inflação, segundo todas as estimativas, segue alto demais; (2) a indústria está operando quase a plena capacidade; (3) o setor de serviços (não comercializáveis) continua com aumento de preços acima da própria inflação; (4) as importações estão crescendo a quase 50% ao ano, de maneira a suprir a incapacidade de atendimento da demanda interna pelo setor produtivo; (5) a alta do dólar no câmbio interno, de 10% nas cinco últimas semanas, concorre agora para aumentar a inflação e não para esvaziá-la; e (6) os preços dos alimentos, que estão em queda, não definiram tendência firme e podem voltar a subir e a produzir inflação.
Sobra aquele argumento de que tudo isso já é passado e que todo aquele que enxerga a vida pelo pára-brisa pode contar com forte desaceleração da produção e dos preços, no exterior e também por aqui.
Como é conservador, o Banco Central tem uma resposta afiada: é mais fácil corrigir eventual excesso de juros do que a falta deles.
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