Política
Sem segurança O GLOBO EDITORIAL,
OPINIÃO
O atentado contra o diretor de Bangu 3-B, tenentecoronel PM José Roberto do Amaral Lourenço, fulmina, mais uma vez, a idéia de que a crise de segurança é um problema localizado apenas nos grandes centros e potencializado no Rio — e reforça a tese de que essa batalha da guerra mais ampla contra a violência precisa ser travada em várias frentes.
As evidências que levam as suspeitas sobre os mandantes do crime às celas dos traficantes Fernandinho Beira-Mar, em Catanduvas (PR), e Marcinho VP, em Campo Grande (MS), comprovam que o braço do crime organizado é longo o suficiente para alcançar áreas supostamente guarnecidas contra a ação das quadrilhas. Vê-se agora que a blindagem dos presídios federais de segurança máxima que hospedam os dois chefões do tráfico tem a consistência de um queijo suíço, o que só torna mais assustadora a extensão das fronteiras no país onde atuam os criminosos.
A este dado juntam-se outras falhas no sistema nacional de segurança que pavimentam o caminho do crime em sua afronta à sociedade, seja pela contaminação das instituições ou pelo solapamento do direito primordial do cidadão ao bem-estar, do qual a paz e a segurança no dia-a-dia são pressupostos ineludíveis. Tais brechas cevam problemas estruturais como a existência de bandas podres a carcomer corporações policiais e outros órgãos do poder público, Justiça desaparelhada, o funcionamento de Varas de Execuções Penais que, contra o bom senso, tiram das prisões condenados sem comprovada reabilitação social e, como o assassinato do diretor de Bangu 3-B dá conta, o virtual controle de presídios pelos seus hóspedes.
No caso específico do atentado no Rio, a este quadro que retrata uma crise sistêmica na política de segurança do país junta-se a estranha providência de deixar a vítima desprovida de um esquema de proteção.
Discutir se o próprio diretor do presídio decidira abrir mão de carro blindado e de escolta perde relevância diante do risco do cargo que ele ocupava. O tenente-coronel não poderia, em hipótese alguma, estar desprotegido quando foi atingido, principalmente quando era sabido que recebera incontáveis ameaças dos criminosos.
Espera-se que desse trágico episódio saltem lições que levem as autoridades a estudar meios efetivos de barrar a desenvoltura com que bandidos agem em agravo à sociedade.
O ponto de partida há de ser o equacionamento dos problemas acima relacionados, o que só se tornará factível se houver uma real articulação entre estados, municípios e o poder federal.
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