POR DEBAIXO DO PANO
O Senado mantinha uma burocracia secreta para
contratar parentes, amigos e correligionários dos
políticos, e para conceder benefícios aos funcionários
Expedito Filho
Lula Marques/Folha Imagem |
O PODEROSO AGACIEL MAIA Apontado como o mentor dos atos secretos e afastado por ocultar uma mansão milionária, o ex-diretor-geral mantém o prestígio inabalado |
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A absoluta ausência de fiscalização, aliada ao apego de alguns políticos ao dinheiro público, não para de produzir histórias espantosas no Congresso Nacional. A última delas: na direção-geral do Senado existia uma espécie de serviço paralelo de administração, responsável por contratações, aumentos de salário e distribuição de benefícios a um grupo restrito de parlamentares e servidores da casa. Tudo às escondidas, sem seguir os trâmites normais da burocracia, com o objetivo de permitir a execução de atos que deveriam ficar distantes dos olhos da opinião pública. Por essa janela secreta, senadores nomearam parentes para cargos de confiança, contrataram correligionários e concederam gratificações e aumentos de salário a funcionários escolhidos a dedo. Como vem acontecendo nos últimos casos de irregularidades, não se percebe muita disposição ou empenho em identificar e punir os responsáveis – e por razões compreensíveis.
Na relação dos beneficiados estão o senador Renan Calheiros (PMDB-AL), o deputado Eliseu Padilha (PMDB-RS) e diretores que ocuparam até pouco tempo atrás altos postos na administração da casa. Apontado como o idealizador da repartição secreta, o ex-diretor-geral do Senado Agaciel Maia negou qualquer irregularidade. Na quarta-feira passada, Agaciel, que foi afastado da direção por ocultar a posse de uma mansão milionária, promoveu a festa de casamento da filha, em que compareceram, entre outros, os três últimos presidentes do Senado – Renan Calheiros, Garibaldi Alves e José Sarney. Reportagem do jornal O Estado de S. Paulo afirma que entre os beneficiados dos atos secretos está João Fernando Michels Gonçalves Sarney, de 22 anos, neto do senador, que trabalhou por dezoito meses no gabinete do senador Epitácio Cafeteira (PTB-MA). O rapaz foi exonerado por causa da lei que proíbe o nepotismo. Para seu lugar – também por um ato secreto – foi nomeada a mãe dele, Rosângela Michels.
"Não tenho compromisso com o erro. Qualquer irregularidade, eu tomarei providências. Garanto que não haverá mais atos secretos no Senado", diz o senador Heráclito Fortes, o responsável pela administração da casa. O problema é que a intenção do senador em não deixar nada sem apuração esbarra na leniência de seus colegas, alguns envolvidos nas irregularidades, e na própria burocracia do Senado, que há anos tira proveito do descontrole – e, com isso, os escândalos vão se sucedendo. "Só existe uma saída para normalizar as coisas no Congresso: transparência absoluta", diz Roberto Romano, professor de ética da Unicamp. A receita é simples.
Cristina Gallo/BG Press |
ISOLADO Heráclito Fortes prometeu apurar tudo |