A inflação tende a recuar um pouco nos próximos meses e voltar para abaixo do limite superior da meta (6,5%), mas, na melhor das hipóteses, permanecerá este ano e no próximo longe do centro do objetivo (4,5%), segundo as previsões das instituições financeiras e do próprio modelo que o Banco Central utiliza para simular a trajetória futura dos preços. Como já se observou na prática, uma inflação dessa magnitude compromete a renda disponível dos consumidores e causa retração nas vendas no curto prazo. Haja vista a queda de vendas em supermercados. No médio prazo, assalariados e produtores de bens de serviços buscam a reposição dessas perdas, detonando uma corrida entre preços e salários, cujo desfecho conhece-se bem no Brasil.
Ainda há tempo de estancar esse processo. A ação do Banco Central tem sido cercada de desconfiança nos mercados. Muitos agentes econômicos acreditam que a diretoria técnica do BC não teria conseguido neutralizar a ingerência política por parte do alto escalão do governo, com pressões partindo diretamente do Palácio do Planalto e do Ministério da Fazenda. Existem, de fato, argumentos em prol da postura cautelosa do BC em relação às taxas de juros, mas, infelizmente, a desconfiança quanto à autonomia operacional das autoridades monetárias acabou prevalecendo, devido a repetidas declarações por parte da presidente Dilma e do Ministro Guido Mantega condenando qualquer iniciativa mais dura no combate à inflação. E o resultado é que as expectativas quanto ao comportamento dos preços no futuro são hoje desfavoráveis, sem dúvida um obstáculo relevante ao esforço para quebrar a chamada inércia inflacionária, herança do período em que o país esteve dominado por uma espiral de alta de preços incontrolável.
A reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) esta semana é especialmente importante porque será uma ótima oportunidade para o Banco Central confirmar o compromisso de manter a inflação dentro da meta que foi estabelecida pelo governo, mirando o centro (4,5%). Se não existem condições objetivas para um recuo mais expressivo da inflação agora, que isso fique bem claro, e justificado, nos comunicados formais que se seguirão à reunião do Copom. Não bastam mais notas e atas que reafirmem o compromisso de maneira mais genérica. Qualquer que venha a ser a decisão do Copom, terá de ser bem convincente.
Nos últimos dias, as autoridades econômicas passaram a ser mais afirmativas no que se refere à disposição do governo de combater a inflação. O ministro Mantega chegou a afirmar na última sexta-feira que, se preciso for, serão tomadas medidas "não populares". E o presidente do BC, Alexandre Tombini, frisou no mesmo dia que não haverá tolerância com a inflação. Que tais declarações sejam realmente sinceras, pois o que está em jogo é a credibilidade do Banco Central e do próprio governo nesta questão estratégica.