Guerra dentro das escolas
Cristiano Mariz e Manoel Marques |
Indisciplina e depauperação O primeiro problema é pior do que o segundo, como atesta a professora Isabel Ribeiro, do Distrito Federal, ameaçada por um aluno |
Num país de tantos dissensos políticos e ideológicos, um consenso se estabeleceu entre os principais atores da vida nacional: se o Brasil almeja figurar no mundo civilizado e competir de igual para igual com as economias mais avançadas, é essencial investir consistentemente em educação. O verbo, aqui, não se conjuga apenas em seu imprescindível aspecto monetário, mas também no que se refere a uma nova visão do papel da escola, dos professores – e, claro, dos alunos. Iniciativas extraordinárias nesse sentido foram tomadas nas administrações Fernando Henrique Cardoso e Lula, e seus resultados positivos poderão ser verificáveis a médio e longo prazo. Entre elas, destacam-se a implantação de provas anuais de avaliação do ensino médio e superior e as mudanças no vestibular, de forma que a prova de acesso às universidades deixe de ser um campeonato de decoreba e passe a medir a capacidade de raciocínio e o nível intelectual dos jovens. No plano estadual, São Paulo e Minas Gerais tomaram a dianteira no essencial passo seguinte, ao priorizar o treinamento de professores e premiá-los individualmente e às escolas públicas cujos alunos tenham melhor desempenho.
Todos esses avanços, no entanto, deparam com uma antiga chaga que continua a se alargar no ensino brasileiro muito além da depauperação física das instalações escolares. Fala-se aqui da indisciplina e da violência de alunos, sobretudo da rede pública. Uma reportagem especial de VEJA, que começa na página 96, mostra como muitos estudantes submetem os professores a toda sorte de agressões verbais e físicas. "Eu e meus colegas não temos coragem nem de pedir silêncio, e dá até medo de reprovar um aluno", disse a professora Isabel Ribeiro, do Distrito Federal, à reportagem da revista. O problema, inaceitável de qualquer ângulo, ocorre de Porto Alegre a Manaus. É necessário um choque de ordem e respeito no dia a dia das escolas, se quisermos que a educação dê o salto imprescindível que o Brasil espera.