Política
Villas-Bôas Corrêa A campanha é prioridade até 2010
JORNAL DO BRASIL
RIO - Na tradição festeira do Rio, a escolha para sede dos Jogos Olímpicos de 2016 assinala um recorde comparável, por exemplo, com a recepção da Força Expedicionária Brasileira (FEB), quando retornou da Itália, depois da derrota do Eixo, com centenas de medalhas por ato de bravura. A memória cutucada recupera as imagens da Avenida Rio Branco literalmente coberta pela multidão, que só deixou o espaço para uma única fila da Praça Mauá ao Monroe.
Carnaval não vale, porque é folguedo de todo o ano, com o Sambódromo e suas amplas arquibancadas para conforto dos fanáticos. A Olimpíada tem outra cadência. A multidão, que varou a madrugada lotando a Praia de Copacabana, no dia seguinte retomou a sua rotina. E não se deve imaginar que a obra monumental em todas as sedes de competições esportivas reúna dezenas, centenas de desocupados para acompanhar o baticum dos martelos e o empilhar de tijolos.
Na pausa, a pré-campanha retomou as articulações de bastidores, com algumas novidades dignas de registro. A ministra-candidata Dilma Rousseff, na euforia da cura atestada pela equipe médica do tumor cancerígeno, depois das sessões de quimioterapia, comemorou a retomada das transas para a montagem da chapa, com a escolha do candidato a vice-presidente. Na ausência do presidente Lula em giro pelo mundo, faturando a escolha do Rio para sede da Olimpíada de 1016, dona Dilma caprichou no vestuário e na peruca prestes a ser defenestrada e compareceu a uma reunião, em Brasília, com o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, presidente licenciado do PDT, e do deputado Paulo Pereira da Silva (PDT- SP) para consolidar a aliança com os pedetistas, que qualificou como fundamental para a estabilidade do governo e a campanha. No jantar oferecido aos pedetistas na residência da chefe da Casa Civil, a ministra Dilma sustentou que o governo terá apenas um candidato. E gabou o governo pelo êxito administrativo que mudou o Brasil. Como se constata, conversa de candidata e ênfase de quem manda e quer ser obedecida.
A desenvoltura com que a ministra colocou as coisas nos seus lugares foi como um esguicho de água gelada na jogada do deputado Ciro Gomes (PSB), que trocou seu domicílio eleitoral do Ceará para São Paulo, por pressão do presidente Lula e como peça de uma jogada estratégica com ele combinada. E na contramão da ministra Dilma foi positivo: “Só estou executando o que combinei com o presidente. Reafirmo que sou candidato à Presidência da República”. No mesmo dia, a ex-prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, foi de uma aspereza que raspa na grosseria no veto ao apoio da candidatura de Ciro Gomes: “A candidatura do aliado do PSB não tem nada a ver com São Paulo”. São palavras que o vento leva com a chegada de Lula e alguns dias de permanência em Brasília. Poucos, que o presidente não quer se desgastar com as futricas dos ansiosos.
Enquanto a oposição não definir a sua chapa com a escolha do vice do governador paulista, tucano José Serra, a pré-campanha continuará a desafiar o calendário fixado pela Constituição, apelando para o pretexto de que Lula e a ministra Dilma viajam para acompanhar as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do Minha Casa Minha Vida, que promete construir 1 milhão de residências populares, e agora, além da arrancada pisando no acelerador para o início das obras para os Jogos Olímpicos de 2016, as emergências aflitivas para o socorro aos milhares de desabrigados pelas enchentes no Norte e no Nordeste e da seca em outras áreas imensas. E mais as enchentes e a seca no Paraná, em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul.
A crise ética da roubalheira no Senado e o repeteco na Câmara sumiram em meio à poeirada.
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