Viva a China? Mais ou menos - ALBERTO TAMER
Política

Viva a China? Mais ou menos - ALBERTO TAMER



O Estado de S.Paulo - 08/01/12



O superávit comercial do Brasil com a China aumentou 125% em um ano! Viva a China? Sim, mas com realismo e sem festa. Esse saldo representa 38% do superávit comercial do Brasil no ano passado. A China é agora o nosso principal parceiro comercial, mas só importa commodities e itens básicos produzidos por elas. O assunto é velho, batido? Sim e não. É velho porque já dura anos; é novidade porque essa tendência ao invés de reverter, aumenta sem parar. Os chineses exportam mais e mais produtos manufaturados, competem - não -, arrasam alguns setores industriais importantes no Brasil o que explica em grande parte a estagnação da indústria. A China é um grande mercado para o Brasil, mas péssima parceira. Joga com tudo na disputa comercial: yuan desvalorizado, exportação por outros países, subsídios, mão de obra aviltada, sem leis trabalhistas que mereçam esse nome. Faz um pacote que a torna imbatível no mercado brasileiro e mundial; exportam todas essas vantagens, roubam empregos aqui que são criados lá. Ruim? Não. Poderia ser pior. Mas não pode continuar assim.

Preço nas nuvens. A Associação Brasileira dos Exportadores alerta para um fato marcante nas exportações para a China. Não há que se vangloriar muito com os resultados de 2011. "Dos US$ 40 bilhões que exportamos até novembro para os chineses, US$ 18 bilhões correspondem a minério de ferro, US$ 10,5 bilhões a soja e US$ 4,3 bilhões a petróleo", afirma o presidente em exercício da entidade, José Augusto de Castro. "Com a exceção de alumínio e fumo, o Brasil nunca exportou a preços tão altos!" Não foi aumento da demanda, não. Foi a especulação financeira que dominou o mercado no ano passado, com fuga das aplicações de risco e especulação com os preços das commodities. Não se consumiu mais nem se fez muito mais estoques. Se especulou mais. "Em algumas bolsas, fundos negociavam 13 vezes o volume efetivo de soja disponível." O mesmo ocorreu com o petróleo.

Ou seja, tivemos um ano atípico com os preços das commodities em alta beneficiados (se é que se pode dizer assim) pela crise financeira europeia. E Castro dá um exemplo que impressiona: "A cotação da tonelada do grão de soja aumentou nada menos que 161% entre 2000 e 2011. Passou de US$ 169 para US$ 495. Não há aumento de consumo que explique isso. O caso do minério de ferro é ainda mais impressionante. Entre 2000 e 2011, o preço da tonelada aumentou 159%".

E daí? Daí que o Brasil não pode confiar no aumento dos preços das matérias-primas para sustentar a balança comercial. Já existem sinais de que essa tendência não deve continuar. O próprio Banco Central já registra um recuo nas cotações. Segundo levantamento semanal feito pelo Economist Inteligence Unit, as cotações de todas as commodities recuaram 4,8% em dezembro, os alimentos 6,4% nesse mês e nada menos que 9% no ano. Nos metais, 17% e, apesar de o petróleo ainda manter alta de 13%, a cotação da nafta despencou 29,7%.

De novo, nenhum consumo explica isso. Só a desaceleração do movimento especulativo, que parece ter chegado ao seu limite. Isso é bom para conter a inflação, mas representa um desequilíbrio negativo para a balança comercial e um desastre para a indústria brasileira que nem chegou ao nível de produção de antes de 2008.

Ministério atento. A boa notícia é que o Ministério da Indústria e Comércio está consciente e atento ao desafio. A secretária de Comércio Exterior, Tatiana Lacerda Prazeres, que deu uma nova dinâmica de ação desde que assumiu, em janeiro, reconhece que o desafio no comércio com a China é aumentar a participação dos produtos de maior valor agregado. "Como revelam os dados, 83,7% nas vendas brasileiras para a China foram de produtos básicos, com predominância para minério de ferro (43,3%), soja (23,2%) e óleo bruto de petróleo (13,2%)."

Há mais espaço, sim. Para Tatiana Lacerda Prazeres "há nichos importantes de produtos industrializados para os exportadores brasileiros. A venda de aviões, por exemplo, registrou aumento de 68,1%, em 2011, e partes e peças de automóveis e tratores foi outra categoria de produto com elevação significativa de vendas no ano (23,7%)".

O governo não deve se contentar e menos ainda se orgulhar do excelente resultado da balança comercial em 2011, que, na verdade, evitou uma queda ainda maior do PIB. É perigoso e temerário ganhar mais não porque se exportou mais - e só commodities - mas porque as cotações aumentaram por motivos inconsistentes.



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