Sobrando dinheiro
De olho em consumidores ricos e antenados, marcas
internacionais de luxo abrem lojas e expandem-se pelo país
Silvia Rogar
Lailson Santos |
EXCLUSIVIDADE A empresária Natalie Klein, no futuro endereço da Marc Jacobs, e a nova sala vip da Louis Vuitton são exemplos do crescimento do luxo |
Paulo Vitale |
O laranja intenso das embalagens da grife francesa Hermès costuma provocar taquicardia nos aficionados de moda. Pois um tapume nessa cor já anuncia que, no início do próximo ano, a marca conhecida por seus produtos caros e à prova de modismos ganhará sua primeira loja no Brasil, no Shopping Cidade Jardim, em São Paulo. Não estará sozinha. A poucos passos, no mesmo centro comercial, os emblemáticos dois cês em interseção indicam o segundo endereço da maison Chanel na cidade, que será inaugurado em novembro. No Iguatemi, templo do luxo paulistano, a italiana Gucci ocupará 470 metros quadrados, tomando um pedaço da popular Lojas Americanas. Não é coincidência a chegada de tantas grifes estrangeiras ao país. Segundo levantamento da Merrill Lynch, no fim de 2007 o Brasil contabilizava 143 000 indivíduos com investimentos financeiros acima de 1 milhão de dólares, grupo mais numeroso do que em outras economias em ebulição, como Rússia (136 000) e Índia (123 000). A isso se soma o comportamento de compra do consumidor brasileiro. Atento aos lançamentos e familiarizado com os mecanismos da moda, ele chega às lojas com a referência exata do último desfile. E a novidade é a alma do negócio das grifes. Por isso o país se tornou endereço obrigatório das principais marcas de luxo internacionais.
Só neste ano já desembarcaram por aqui as bolsas da Furla e da Longchamp. Também vieram os ternos ajustados ao corpo de Tom Ford e as cobiçadas coleções da Balenciaga. As duas últimas grifes ganharam espaço próprio na Daslu, que também abrigará a Emilio Pucci, conhecida pelas estampas originais, e a Goyard, a marca de acessórios predileta dos milionários mais discretos. "As nossas clientes brasileiras acompanham os desfiles de Paris pela imprensa e logo procuram as lojas para fazer suas encomendas", diz Frédéric Morelle, presidente da Louis Vuitton para a América Latina. Em outros países emergentes, como China e Rússia, há dinheiro, ostentação, mas falta informação sobre moda. Um efeito colateral previsível do comunismo. Não é à toa que as vendas da Vuitton, que inaugurou sua quarta loja em São Paulo neste ano (os moscovitas têm só duas), crescem quatro vezes mais no Brasil que a média mundial. O produto mais procurado pelas brasileiras atualmente é a bolsa Neverfull, que custa "modestos" 1 770 reais. Os três relógios Emprise que vieram para São Paulo, a 36 800 reais cada um, voaram da prateleira em dez dias. Os itens básicos, porém, não têm a mesma receptividade. E isso ocorre também com as calças da Diesel. Os jeans de 150 dólares nem chegam por aqui. Já os modelos de 2 000 reais, da edição limitada Diesel Denim Gallery, se esgotam.
"Os brasileiros conhecem o luxo e investem em arte. Por isso queremos criar raízes", disse a VEJA Bertrand Stalla-Bourdillon, executivo-chefe da grife Marc Jacobs, uma das mais desejadas e copiadas do planeta, cuja primeira loja em São Paulo será inaugurada em dezembro. Quem responderá pela operação comercial da marca no país será Natalie Klein – filha do dono das Casas Bahia, Michael Klein. Além disso, ela inaugura, neste mês, espaços das grifes Stella McCartney e Missoni em sua loja, a NK Store. Sem medo de se arriscar, mesmo sabendo que os produtos vendidos aqui custam quase o dobro, em razão das altas taxas de importação. "Hoje nosso maior concorrente é o avião", diz. É aí que, para contrabalançar, entra em ação outra especialidade brasileira: a cultura de oferecer serviços e mimos, como salas vips, copeiras, manobristas e vendedoras dispostas a ouvir problemas afetivos. O jeito brasileiro de fazer negócios se torna insuperável também por outra razão: a possibilidade de parcelamento das compras. Mesmo quem pode pagar à vista prefere dividir, o que as lojas fazem prontamente. "Com isso, abrimos nosso leque de clientes", diz Rosangela Lyra, diretora-geral da Dior no Brasil. No ano passado, a indústria do luxo faturou 5 bilhões de dólares no país, segundo dados da MCF Consultoria – valor 17% maior que em 2006. E a tendência é crescer. Para quem achava que desfilar com a bolsa da estação era para pouquíssimos, um aviso: há lojas que dividem esse luxo em até dez vezes. Isso, sim, é exclusivíssimo.
Objetos do desejo
Fotos Divulgação |