Política
Memorial às Vítimas da Intolerância
Enquadramento histórico da erecção (
brevemente no Largo de São Domingos) de um memorial às
"vítimas do massacre judaico de 1506", (especificamente apenas a este grupo étnico e aos “cristãos que os ajudaram” nos apertos), que viria a concretizar-se na
proposta 423/2007 da Câmara Municipal de Lisboa1.
Inquisição Espanhola. Em Toledo, capital do reino de Castela, os reis católicos Fernando e Isabel em finais de
Abril de 1492 mandam apregoar que "
todos os judeus e muçulmanos que ao presente moram nestes reinos os abandonem, sob pena de morte e confisco dos bens.
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A data coincide com a tomada de
Granada aos Mouros. Muitos judeus e outros semitas foragidos de Espanha instalam-se em grande número em Portugal, depois de autorização expressa de D. João II, na condição de pagarem o "
arabiado" um imposto que revertia para a Coroa: as famílias mais abastadas pagavam 60 mil cruzados de ouro, e todos os outros oito cruzados por cabeça e mais 50 cruzados por ano, quantia reduzida a metade para obreiros, ferreiros e alfagres que queiram estabelecer-se definitivamente no país. Todos os outros só poderão demorar-se oito meses, prometendo o rei que lhes proporcionará navios para, por preços justos, os levarem aos lugares que escolherem".
Em Julho de 1492, por todas as fronteiras estão a entrar multidões; mais de 300 por Bragança; de Zamora chegam a Miranda do Douro mais de 30 mil; de Badajoz para Évora cerca de 10.000. Entre os foragidos grassa a peste e a população das terras por onde passam fecha-lhes as portas e persegue-os. Os
judeus (apenas eles?) estão em grandes dificuldades em sair de Portugal para o norte de África, porque não existem embarcações suficientes. Os capitães dos barcos exigem preços exorbitantes e fala-se muito da violência que alguns deles exercem sobre os imigrantes. A maioria da diáspora judio-árabe-semita oriunda da Peninsula Ibérica (Al-Andaluz para os muçulmanos, Sefarad para os judeus), acabam por se fixar uns no Norte de África, outros em
Tessalonika e em
Amsterdão, onde prosperaram.
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Em Fevereiro de 1496 é publicada em Leiria a tradução do castelhano do “
Almanach Perpetuum” de
Abraão Zacuto que iria facultar aos marinheiros o uso das tábuas solares quadrienais, “o que muito facilita a orientação nas viagens”
Em
Dezembro de 1496 os Reis Católicos impõem, como condição para o casamento da Infanta D. Isabel de Castela com D. Manuel,
a expulsão definitiva dos judeus e dos muçulmanos (ambas etnias semitas) do Reino de Portugal. Desde 1249, a data da conquista de
Tavira e da expulsão definitiva dos Mouros do reino, muitos converteram-se ao cristianismo e tinham ficado: são os chamados
Mouriscos. Não existia, até então, qualquer vestigio de "
anti-semitismo" (uma expressão
criativa moderna),
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antes consentimento na integração
e um problema religioso - a afirmação da fé cristã perante a
Reforma de
Martin Lutero (1483-1546) que começava a ser empreendida no Norte da Europa (Todo mundo é de todo mundo, ninguém tem de pagar nada pela vida) - e foi assim que as autoridades católicas começaram a
queimar heréticos protestantes.
2.
Longe de Toledo, cumprindo o destino bíblico:
O Pogrom de Évora.
No Domingo de
Páscoa de 1497 o rei ordenou que fossem retirados às famílias dos "cristãos novos" os filhos menores de 14 anos, para serem distribuidos pelas cidades e vilas do Reino e educados na
fé cristã. Para evitar que "os judeus" tivessem tempo para esconder as crianças a ordem foi cumprida no próprio dia e assistiu-se a cenas comoventes, romanceadas depois pelo judeu
Meyer Kayserling (
1829-1905) que
re-escreveu deste modo os acontecimentos: “As justiças do rei retiram retiram os filhos de judeus de suas casas e obrigam-nos a receber o sacramento do baptismo. O que então aconteceu, não foi somente dilacerante para os judeus mas também para os cristãos assombro e admiração; pois nenhum ser admite e suporta que mão humana lhe arranque seus filhos e se tal sucede a outrem todos sentem, por compaixão natural, a mesma dor. Aconteceu então que muitos cristãos, levados por piedade, abrigavam e escondiam em suas casas os perseguidos. Os pais, levados ao desespero, vagavam como dementes, as mães resistiam como leoas".
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Muitos preferiam matar os filhos com as próprias mãos. “Vi com os meus próprios olhos diz o probo Coutinho, bispo de Silves, como muitos foram arrastados pelos cabelos à pia baptismal”
Isac Ibn Zachin, um homem erudito oriundo de Toledo, cujo nome não distingue árabes de judeus que sempre tinham convivido em paz, matou os filhos e suicidou-se. Aos que restaram, convertidos à força,
não tardou que o povo lhes começasse a chamar “cristãos novos” 3. Em 1506 acontece o alegado “
massacre de judeus” em Lisboa,
quando estes já tinham sido expulsos há uma década, e os que ficaram se reconheciam de facto como cristãos-novos, ou marranos. O episódio vem referido por
João de Barros, na “
Crónica do Sereníssimo Senhor Rei D. Manuel”. Décadas depois o historiador
Damião de Góis divulgou a sua versão do acontecido, provavelmente considerada errada pelo Poder - o discipulo de
Erasmo de Roterdão, o diplomata que correu toda a Europa e conviveu com os grandes, o músico, o coleccionador de arte, o escritor, o humanista de alta estirpe e larguíssima visão cosmopolita, levou uma pancada na cabeça e morreu cruelmente em casa caindo sobre o lume da lareira. Tinha saído recentemente da prisão no Mosteiro da Batalha. Corria o ano de 1574. Mas vejamos o que tinha acontecido entretanto,
4.
Em 1516 os banqueiros “alemães” iniciam negócios em Portugal
Jacob Fugger,
riquíssimo banqueiro alemão assenta feitoria em Lisboa. O rei precisa atrair capitais estrangeiros para financiar as armadas. Por isso concedeu grandes privilégios, especialmente aos banqueiros alemães (por
mero acaso este que veio era
judeu, o mesmo que pôs de pé o
Sacro Império Romano de MaximilianoI da Casa de Habsburg, de onde descendem a
Casa dos Bourbons de Espanha e os
Orléans-Braganza. It`s a small world indeed). Portugal isentou-os, entre outras coisas, de pagar impostos pelo dinheiro importado. Só pagam dízima pelo cobre, mercúrio, pólvora, alcatrão, mercadorias necessárias ao comércio africano e à navegação da Índia. Por outro lado, interessa aos mercadores estrangeiros abastecerem-se em Lisboa das especiarias, em boas condições, para as distribuirem pela Europa.
os Banqueiros do Reino
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A propósito do poder e influência dos Fuggers escreve António de Beatis no seu "Diário de Viagem": “
Os Fuggers, são os maiores mercadores da cristandade. Sem ajuda de ninguém, podem dar trezentos mil ducados, sem perderem nada da sua fortuna. Esta fortuna proveio de empréstimos feitos aos bispados e abadias e das minas de ouro e prata que obtiveram, durante vários anos, do imperador e do rei da Hungria, por baixo preço. Estas minas empregam dez mil mineiros alemães e húngaros. Também em
Augsburgo (onde se encontra o palácio dos Fuggers, um dos mais belos da Alemanha) está instalada a família Welser, pessoas agradáveis que pertencem também à aristocracia da cidade. São grandes comerciantes, que mantêm relações com Portugal mas sem comparação com os Fuggers. Os interesses dos grandes financeiros alemães não se limitam à Europa Central. Passam também por Lisboa”. (pag. 195,“Diário da História de Portugal”)
Notável a forma como a estes emigrantes ricos
o estigma da etnia judaica como que desapareceu. Mas a riqueza acumulada pelos judeus é considerada por muitos historiadores o principal motivo da instalação da Inquisição.
4. Em
1536 o
Papa Paulo III concede a Bula que erige canonicamente o
Tribunal da Inquisição. O Rei mandou pedir ao Sumo Pontífice que nomeasse
Inquisidor-Mor o Infante D. Henrique,
Arcebispo de Évora (O mesmo mentor da trágica Páscoa de 1497). Alguns politicos afectos ao Rei consideram necessária a actividade deste Tribunal, para perseguir os numerosos
cristãos-novos que continuam secretamente a judaizar (isto é, a emprestar dinheiro com juros usurários, quando
a usura é um dos sete pecados capitais do cristianismo). O objectivo, de facto, é confiscar as fortunas desse poderosos empresários, para assim fazer face ao crescente défice do Estado.
As despesas com as armadas do Oriente, com a sempre crescente pressão dos mouros no Norte de África, com os prejuizos resultantes da pirataria francesa e holandesa, e com o cada vez mais numeroso pessoal desta Corte, não encontram contrapartida nas receitas públicas. Em 1525 foi votada uma contribuição voluntária, pelos povos, de 150.000 cruzados. E em 1535 outra de 100.000 cruzados. Mas as dificuldades não cessam de afligir os tesoureiros do rei. Os mais optimistas pensam que as grandes riquezas acumuladas pelos cristãos-novos vão resolver a situação. Em 1540 é decretada a Censura; o Inquisidor-Mor Infante D. Henrique ordenou que não seja publicado nenhum livro sem autorização do Santo Ofício. Agentes da Inquisição vistoriam casas e naus e apreendem todos os livros que consideram suspeitos. Em todos os autos-de-fé, além dos réus queimados, são entregues às chamas caixotes de livros considerados heréticos.
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5. No mesmo ano chegaram ao reino Simão de Azevedo como bolseiro do rei, e o nobre
Francisco Jasso de Xavier em
Navarra. Estudaram em Paris onde se graduaram em Artes e pertencem à
Companhia de Jesus, fundada por Inácio de Loyola. Organizada com
disciplina militar, a Ordem dos Jesuitas seria um dos mais operacionais instrumentos da nova ordem da Contra-Reforma. No ano da graça de 2008, o espírito de Navarra, o secular atraso obscurantista da Europa do Sul, ainda hoje perdura, na Opus Dei e na “universidade” navarrina onde o General Eanes se “doutorou” recentemente. Os banqueiros judeus, globalizados pelo modo do “novo mundo”, por empresas como a
Goldman Sachs, também continuam activos: a devolução à procedência do nº2,
António Borges, é apenas a devolução à origem da
parte portuguesa na crise financeira internacional.
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6. Lagos 20 de Agosto de 1574, o ano da morte de
Damião de Góis. O rei enviou a seguinte carta a todos os nobres portugueses: “Eu El-Rei, vos envio muito saudar. Cheguei a este reino do Algarve, e conformando-me com as ocasiões dos tempos e procedendo nos intentos, práticas e resoluções passadas sobre as matérias de África, assentei ir-me à cidade de Ceuta e dela à de Tânger, tanto que chegar gente com que me pareça que o devo fazer. Pelo que vos encomendo muito e vos mando que logo que tanto esta virdes, vos venhais a Tavira com todos os cavalos que puderdes ajuntar logo sem dilação, deixando ordem para virem após vós todos os mais com que puderdes servir. E tanto por mais certo que na brevidade e em tudo o mais, procedereis como de vós espero. Assinado, El-Rei”
Há inquietação geral perante estes projectos guerreiros, numa fase de grande depressão económica. Há quem pergunte: se os portugueses mal chegam para suster o império do Oriente, como irão ganhar um império em Marrocos? –
perguntem à Banca quais são os interesses que a movem.
"Não me receio de Castela/ De onde guerra não soa/ Tenho medo por Lisboa/ Onde ao cheiro desta canela/ o reino se despovoa"
Sá de Miranda .
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