Nós Árabes… (II)
Política

Nós Árabes… (II)


“Há quatrocentos Portugal estava na sua primeira experiência de integração política europeia. Hoje chamamos-lhe o “tempo dos Filipes” e ele evoca-nos só a Espanha, mas é por ignorância. Os Filipes pertenciam a uma família do centro da Europa — os Habsburgos”. Verdade. Rui Tavares prossegue o relato dos últimos quatrocentos anos do rectângulo Portugal, cuja inserção foi “mais intercontinental do que europeia” começando precisamente pelas “possessões no “Algarve d’Além-Mar”, ou seja, em África” – Nunca que nos lembremos alguém teria parido uma resenha tão célere da excomunhação da nossa herança Árabe. Compreende-se, Rui Tavares é judeu, colunista oficial da corte, posiciona-se do lado dos interesses da classe dominante, e não deseja que os seus sejam confrontados com concorrências étnicas incómodas às pré-fabricadas desgraças da sua tribo. Desgraças antigas inventadas que ocultam graças concretas contemporâneas.

Ora foi precisamente “no tempo dos Filipes da Casa real dos Habsburgos”, mais precisamente a partir do ano 1609 que foi decretada a partir de Valência a expulsão de todos os Mouriscos da Ibéria unificada.

«Habiéndolo hecho encomendar a nuestro Señor y confiado en su divino favor, por lo que toca a su honra y gloria, he resuelto que saquen a todos los Moriscos de este Reino y que se echen en Berbería.» (Felipe III (1609)

Até 1614 foram “deportados em nome de Deus” cerca de 300.000 mouriscos nascidos nos reinos ibéricos, forçados à conversão ao cristianismo desde a queda do Reino de Granada, embarcados à força para o exilio no estrangeiro para destinos como Argel, Marrocos, Libia e Egipto. A expulsão teve consequências económicas desastrosas, calculando-se que o índice demográfico nas regiões com modo de produção mais avançado regrediu 35 por cento. Curiosamente, este declínio civilizacional contrasta em absoluto com a entrada da família dos incontornáveis banqueiros judeus alemães Jacob Fugger (próximos dos Habsburgos) no financiamento e gestão dos negócios das monarquias ibéricas
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O sultão Boabdil, Maomé XII, rende-se a Fernando de Aragão e Isabel de Castela no dia 2 de Janeiro de 1492. "A Capitulação de Granada", Francisco Pradilla y Ortiz (1882).

O expatriamento forçado dos antigos muçulmanos, que eram oficial e obrigatoriamente católicos desde as primeiras décadas do século XVI, completava a uniformização religiosa e racial iniciada pelos Reis católicos Fernando e Isabel que tinham expulso a ralé dos judeus que mal se distinguiam dos mouriscos – uma politica tenazmente prosseguida depois com a perseguição inquisitorial aos cristão-novos sob ataque da difusão dos estatutos de limpeza de sangue. Nos alvores da modernidade persiste em Espanha (e em Portugal por arrastamento) com enorme força o espírito de Cruzada: os castelhanos obliterados pelas visões do cardeal de Toledo Francisco Jiménez de Cisneros sonham com a conquista de Jerúsalem. Fernando o Católico estaria porventura pouco convencido da realidade da conquista do Santo Sepulcro, pretexto para a limpeza étnica das paróquias conquistadas.

Mas o mito persistiu, levando o seu sucessor Carlos V a chocar com grande estrépito contra uma enorme potência emergente, o império otomano de Solimão o Magnifico. O conflito culminou nas águas de Lepanto em 1571 com uma vitória de pirro que permitiu ao monarca espanhol usar o paranóico epipeto de “Subjugador do Poderia Turco”, porém um titulo nobiliárquico que económica e culturalmente não serviu para nada ao povo, excepto para a exportação da Inquisição nacional para os novos mundos a escravizar pelas descobertas. Com a expulsão da identidade cultural ibérica do inicio do século XVI o que os novos “ditadores democráticos” hoje em dia celebram portanto é o IV Centenário de uma ignominia – não, como o falso ignorante Rui Tavares pretende, a partida dos nórdicos do Condado Portucalense para uma aventura ultramarina que tivesse tido êxito ou, a repetir-se, que tenha futuro, sem trabalho na produção nacional, repudiando em definitivo o saque, a rapina e a exploração de outros povos pela pertença ao universo dos descendentes das casa reais que gerem o Tratado do Atlântico Norte.

Nossa Senhora da Vinha, a santinha padroeira da Igreja construída sobre as ruínas da antiga Mesquita de Mértola

Bibliografia de referência:
- "Historia de los Moriscos, Vida Y Tragedia De Una Minoria", Domínguez Ortiz e Bernard Vincent, 1978 (ler)
- "Deportados en Nombre de Dios", Rafael Carrasco, 2009 (ler)
- Wikipédia: "Granada Muçulmana" (ler)
- "Congreso Internacional Los Moriscos. La Expulsión y Después", Madrid 2009 (ler)
- Wikipedia: a familia de banqueiros judeus de Jacob Fugger (ler)
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