Política
"Capitalismo sem regras mata operários no Bangladesh"
Quem os ouvir ou ler até pensará que o Capitalismo pode pagar salários com moral e ética. Decerto pretenderiam dizer: “
esmagados pelo Capitalismo”
Alguns norte-americanos e europeus sentem, equivocadamente, que "vivem num universo diferente do Bangladesh”. Mas a diferença é
apenas uma questão de grau. Os grandes retalhistas que operam
no Ocidente são fornecidos pelos trabalhadores do Bangladesh, onde de forma rotineira se pratica o roubo dos salários, a redução das horas trabalhadas consoante a necessidade de consumo dos importadores e se impede que os operários locais ganhem um salário mínimo consignado por lei" – ou seja,
muitas das lutas actuais são comuns ao primeiro e terceiro mundo.
"o Capitalismo financeiro global é o vilão neste trágico conto"
Quando falamos de pessoas que são esmagadas pelo capitalismo, geralmente fazêmo-lo em termos metafóricos. Derrotas políticas e opressões de vários tipos podem ser descritas como tal, mas a referência literal raramente se refere a factos concretos. Num complexo de pequenas fábricas artesanais em Savar, Bangladesh
até 1 000 trabalhadores de vestuário foram esmagados até à morte, quando o edifício onde trabalhavam colapsou por causa das estruturas deficientes para acolher o excesso de ocupantes. As buscas por sobreviventes continuam mais de uma semana depois da derrocada. Foi o segundo desastre mortal em larga escala envolvendo trabalhadores têxteis de Bangladesh desde Novembro passado, quando 112 pessoas morreram num incêndio numa fábrica de roupas.
As grandes cadeias de retalhistas norte americanas e e europeias têm vindo a
depender cada vez mais das oficinas clandestinas localizadas no Haiti, Bangladesh, Filipinas e até mesmo nas zonas rurais da China, face ao
esmagamento dos preços e fim de maximizar os seus lucros. Quando os norte americanos da Walmart, H&M, Gap, Sears, os espanhóis da Zara e H&M ou os portugueses da Sonae e Pingo Doce
oferecem pechinchas de vestuário, alimentos exóticos e outras mercadorias, estas ofertas surgem com artigos fabricados por pessoas que arriscam as suas vidas em troca de um rendimento miserável. Ou por ter a oportunidade de garantir mais e melhores empregos. O trabalho a tempo parcial tornou-se norma, tornando a vida dos trabalhadores semi-escravizados a mais e mais dificuldades em proveito dos lucros dos cada vez mais ricos.
É muito fácil culpar as Walmarts, as Zaras, Ikeias e Sonaes deste mundo, quando acontecem mortes, mas o objectivo das ofertas de preços excepcionais é
sintoma de uma doença maior. O capitalismo financeiro mundial é o vilão nesta história e vai continuar a esmagar milhões ao redor do mundo naquilo que parece ser a fase final da sua dissolução.
A fase final da existência do capitalismo?
Este sistema financeiro não tem nada para oferecer a não ser uma sucessão de bolhas, primeiro na Internet, depois no mercado de acções, nos paises emregentes, no imobiliário e finalmente no endividamento das nações. O resultado final destas
pseudo teses económicas que não passam de reles maquinações é sempre o sofrimento das massas de trabalhadores, já que estas se estão tornando
cada vez mais dispensáveis no mundo capitalista. Seria um erro considerar a experiência do Bangladesh como sendo assim tão diferente do que se passa no nosso mundo do trabalho. Os trabalhadores da Walmart ou da Sonae podem não ter o destino de ser esmagados pelo colapso de edifícios. Mas
são espremidos por dentro a um ritmo acelerado, incapazes de ganhar o suficiente para viver, se qualificar, aceder a benefícios de saúde dignos para que haja melhores ofertas aos consumidores viciados pelo marketing e publicidade danosa. Uns e outros, por alguma razão são chamados do exército social de reserva, uns expirados na espiral recessiva e outros não utilizados em produções inexistentes. Até mesmo os reformados que trabalharam uma vida interira em melhores condições não estão actualmente seguros de não voltarem a ser explorados, neste caso pelos governos. A segurança que estas pessoas no final de carreira deveriam ter está rapidamente a diminuir.
O método na
divisão internacional do trabalho utilizado no Bangladesh, (ou no México ou em Portugal)
é o sistema de subcontratação, para tentar separar o grande comércio “assente em trabalho consciente” dos fornecedores de trabalho sujo das fábricas baratas mas perigosas. Um tribunal federal norte americano interpôs uma acção cível
alegando que os roubos no não cumprimento da legislação nas grandes cadeias distribuidoras era feito por empresas subcontratadas. Quando vimos noticias como esta da derrocada no Bangladesh, deveríamos revermo-nos nelas também. O sequestro Orçamental (criado pela
matrix Obama, seguido por uma multidão de serventuários genéricos como o nosso Passos e Gaspar) não poupa sequer cortes em doentes cancerosos, subsídios de desemprego e rendimentos minimos de subsistência.
Estamos à mercê de empresas gananciosas e de dois partidos políticos, todos eles com planos para roubar o dinheiro dos contribuintes e mantê-los pobres e condicionados. A ilusão da diferença entre estes diversos agentes dos mercados é como um jogo, onde cada um age como se tivesse lutando contra os outros, mas apenas pelo melhor quinhão do saque. Em última análise, nesta guerra de classe, todas as vítimas perdem o dinheiro e rendimentos que tinham de forma descarada.
A população do Bangladesh reagiu às mortes com muita raiva. Manifestações e greves têm sido convocadas nos dias a seguir ao colapso do edifício.
A indignação é o primeiro passo para a justiça aos trabalhadores do Bangladesh, e deveria ser
igualmente um primeiro passo para as pessoas, trabalhadores ou consumidores de todo o mundo. Convencer as nossas populações empurradas para a pobreza de que deveriam estar todas a protestar nas ruas. O sistema em que vivemos está corrompido e não pode continuar a agir contra os interesses da grande maioria. Produtores ou consumidores todos estão a ser tratados como serventes de lojas,
suando por uma economia insustentável que urge fazer implodir. Infelizmente, pese o desespero, imbecilizados pelos media, há pouca compreensão de nossa verdadeira situação. Os trabalhadores do Bangladesh suportam o peso total do terror inerente ao sistema. O nosso fim como espectadores no mundo dos ricos será um pouco mais lento e menos violento, mas os objectivos a atingir nos dois casos são coincidentes.
(Adaptado do original de Margaret Kimberley, in The Black Agenda Report)
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