A Abin bisbilhotou jornalistas
Política

A Abin bisbilhotou jornalistas


O guardião dos grampos

Agente da Abin confirma que ouviu gravações de
conversas de jornalistas e que entregou os arquivos
de áudio a seu chefe, o delegado Paulo Lacerda


Expedito Filho

José Cruz/ABR

NA ESCUTA
Seltz não esclareceu se as conversas de jornalistas foram gravadas de maneira legal. Suspeita-se que não


Há três meses, a Polícia Federal e o Ministério Público averiguam a participação clandestina da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) na operação que investigou o banqueiro Daniel Dantas. Já existe consenso entre as duas instituições de que a ação dos espiões oficiais foi ilegal. O que as autoridades não sabem ainda com precisão é a dimensão das irregularidades. Na semana passada, o agente Márcio Seltz, um dos mais de oitenta arapongas envolvidos na operação secreta, enviou uma carta à CPI dos Grampos para retificar uma declaração em seu depoimento. Ele afirmou que, ao contrário do que dissera, manipulou grampos telefônicos de jornalistas e que os áudios das gravações foram repassados ao então diretor da Abin, delegado Paulo Lacerda. O agente não esclarece a maneira como foram obtidas as interceptações das conversas dos jornalistas – se por meios legais ou não. Apenas recebeu o material, analisou-o e o entregou ao chefe.

O ex-diretor da Abin foi afastado depois que se descobriu a atuação clandestina de seus espiões, que grampearam ilegalmente os telefones de políticos, jornalistas e autoridades, entre as quais o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Gilmar Mendes. Indagado a respeito na CPI, Paulo Lacerda mentiu ao Congresso. Disse que a atuação de seu pessoal se limitou a uns poucos arapongas, acionados informalmente apenas para checar endereços, e que ele nem sequer sabia dos detalhes da operação. O depoimento do agente Seltz mostra que Lacerda, além de acompanhar tudo, era o guardião do material produzido. O que será que o ex-chefe do serviço de espionagem do governo faz com os arquivos de áudio que recebe?

J. Edgar Hoover, o lendário ex-diretor do FBI, a polícia federal americana, tinha um imenso arquivo de gravações telefônicas ilegais que usava para chantagear adversários do governo. Seus biógrafos escreveram que ele fazia tudo com o consentimento da Presidência da República. Hoover ficou 48 anos e oito presidentes no cargo. No Brasil, Paulo Lacerda, que comandou a Polícia Federal até o ano passado, deixando uma folha de excelentes serviços prestados ao governo, foi afastado temporariamente da Abin pelo presidente Lula, mas já contou a amigos que voltará ao cargo no fim das investigações. Não se sabe a origem de tamanha convicção. Sobre os grampos entregues pelo agente Márcio Seltz, Lacerda reafirmou que desconhece o assunto. Ele nunca viu, ouviu ou guardou gravação alguma.

Beto Barata/AE

CADÊ O ÁUDIO?
Lacerda desmente o antigo subordinado
e garante que não recebeu arquivos de
grampos de jornalistas




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