Mais bancos anunciam reduções de taxas depois do início da campanha do governo; mas isso resolve?
O PESSOAL do governo dava ontem risinhos satisfeitos.
Outro banco estrangeiro anunciou redução de juros. Depois do HSBC, agora foi o Santander, que, no entanto, nega ter baixado suas taxas para pequenas e médias empresas devido ao bafafá do governo.
Grandes bancos teriam "dado a saber" para o pessoal de Dilma Rousseff e o do Ministério da Fazenda que os juros vão cair a partir da semana que vem (dois grandes bancos privados brasileiros negam tal conversa). Por fim, um funcionário do FMI falou bem do BNDES e, mais ainda, da dinheirama que o governo emprestou ao bancão estatal.
Funcionou a pressão do governo? As broncas de Dilma Rousseff? A campanha de Guido Mantega? As "broncas técnicas" do Banco Central? As baixas agressivas dos juros no Banco do Brasil, na Caixa Econômica Federal, afora os cortes de taxas no BNDES, menos "pop"?
Talvez, um pouco, vamos esperar para ver. "Especulativo, protesto", como dizem os advogados em filmes americanos com cenas de tribunal.
A fim de tirar uma azeitona da empada de satisfação do governo, é preciso observar que:
1) bancos privados já estudavam um relaxamento no aperto de crédito deles (menos juros, condições melhores), pois a economia deve acordar agora neste segundo trimestre;
2) a Selic, a taxa básica da economia, continuou a cair;
3) pode ser que bancos privados reduzam uma taxa ali, outra aqui e concedam algo acolá a fim de contrabalançar a propaganda do governo e o prejuízo de imagem;
4) apesar das brutais reduções de juros no BB e na CEF e apesar do tamanho deles, esses bancos têm limites: de capital, de risco, de rentabilidade. Quanto crédito adicional a taxas baixas precisariam oferecer a fim de roubar parte significativa do mercado dos bancos privados?
5) até agora foram os estrangeiros que anunciaram taxas menores. Os estrangeiros (europeus) vinham perdendo muito mercado desde 2008, quando entraram em retranca de crédito no mundo todo. Pode ser que queiram reagir agora.
Isto posto, a campanha do governo movimentou a praça. Instigou a irritação surda do consumidor comum do varejo dos bancos, que sofre calado as indignidades e prejuízos cotidianos do serviço ruim dos bancos, que tratam as queixas da clientela com indiferença olímpica, com a indolência burocrática a que os oligopólios se permitem.
Mas isso provoca mudanças para valer, duradouras? Uhm.
O pessoal do Banco Central deu uma "bronca técnica" na banca, digamos. Disse que os bancos eram "pró-cíclicos demais". Ou seja, acelerariam além da conta o crédito em períodos de bonança; pisariam demais no freio nos períodos de baixa da economia. O ideal, acha o BC, seria que os bancos fossem neutros ou ligeiramente anticíclicos: que ajudassem a evitar os exageros dos ciclos ruins e bons. Mas isso tem efeito prático na gestão dos bancos?
O restante do governo, Fazenda em especial, não deu muita trela para alguns pleitos razoáveis dos bancos, mudanças regulatórias que de fato ajudariam a reduzir os juros.
Enfim, o governo não propõe regulação ou instituição nova alguma que ajude a proteger de fato o direito do consumidor de serviços bancários, que permanece sem pai nem mãe nesse quesito.