O Estado de S. Paulo - 03/05/2011 |
Neste 1.º de maio, a oposição finalmente acordou para as vacilações do governo Dilma e colocou a nu uma de suas ambiguidades, a de não saber se ataca a inflação ou se ataca outros problemas da economia. Essa ambiguidade é reforçada por outra. O governo federal teme "matar a galinha dos ovos de ouro", ou seja, teme prejudicar o crescimento econômico se for mais duro com a inflação. Embora o discurso da presidente Dilma insista em que a prioridade do governo é o combate à inflação, o miolo da equipe econômica tem entendido que o verdadeiro problema a enfrentar no momento é a tendência à valorização cambial. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, repetidas vezes deu pouca importância à aceleração dos preços. Entendeu que eram provocados por um choque da alta das commodities e que esta tem sua origem na especulação que, por sua vez, advém da enorme liquidez criada pelos grandes bancos centrais mundiais. Por isso, não haveria nada especial que se pudesse fazer para derrubar a inflação. É esperar pela reversão internacional dos preços. Ou seja, no diagnóstico original do Ministério da Fazenda, a inflação, que agora tende a avançar para além dos 6,5% ao ano, não tem nada a ver com o fato de que o consumo está correndo à frente da oferta (inflação de demanda). Portanto, basta que seja contida por meio de medidas prudenciais (de controle do crédito). Até a semana passada, o Banco Central comprou de olhos fechados esse diagnóstico equivocado e também errou no tratamento. Foi excessivamente frouxo no enfrentamento da inflação e, dessa maneira, deixou que o salário do trabalhador e o próprio crescimento fossem esmerilhados por forte alta dos preços. No entanto, mantém parte das projeções também equivocadas. O Banco Central continua repetindo que conseguirá desacelerar o avanço do crédito, hoje superior a 20% em 12 meses, para algo abaixo dos 15%. No entanto, os bancos não estão nem um pouco determinados a se conter nesses limites. Ou seja, as tais medidas prudenciais não estão sendo suficientes para segurar o crédito. Há mais dois focos graves de inflação que não estão sendo revertidos. O setor de serviços (pouco sujeito às medidas e contenção do crédito) continua cavalgando. E há o fator salário. A temporada de negociações salariais coincidirá com a de pico inflacionário. Como já está acertado que o mínimo será reajustado em cerca de 14% a partir de janeiro, num cenário de forte escassez de mão de obra, esse reajuste será elemento disparador de custos do setor privado e de aceleração da inércia inflacionária. Nessa matéria, não bastam os discursos. É preciso determinação do governo na eleição do seu alvo primário. Essa hesitação permitiu que a oposição, há meses estilhaçada e em processo de apagamento, recobrisse seu foco e capacidade de questionamento da política econômica. Mas há outras vacilações do governo que precisam de cobrança. Uma delas é essa disposição a dar créditos do BNDES, redução de impostos e favorecimento de infraestrutura a uma empresa recém-chegada de Taiwan para um investimento de R$ 12 bilhões na produção de aparelhos eletroeletrônicos, sem levar em conta que há milhares de indústrias no Brasil, há anos comendo o pão que o diabo amassou, e que não usufruem de nenhuma dessas vantagens. |