Política
A Táctica da Responsabilidade
Sobretudo depois do anúncio da moção de censura do Bloco, um aceso debate gerou-se sobre o posicionamento que os partidos deverão ter perante a continuidade ou não do actual Executivo. A maioria dos opinion makers acabou então por firmar dois posicionamentos antagónicos: por um lado uma postura de suposta responsabilidade, onde se deixa o Executivo governar, não criando entraves formais à sua actividade e, por outro, uma postura de táctica política, recheada de uma espécie de irresponsabilidade vil, que defende a queda do actual executivo. Tem sido este quadro maniqueísta que tem sido maioritariamente apresentado à opinião pública, sendo escusado sublinhar a forma como esta visão coloca a iniciativa do Bloco.
Posto isto, se calhar vale a pena sublinhar alguns pontos a este respeito. Já é perfeitamente consensual para as diversas forças políticas que o actual Executivo não completará a presente legislatura. É igualmente consensual, em todos os quadrantes da oposição, que a política prosseguida é uma das grandes responsáveis pela crise a que chegámos e que as medidas que estão a ser tomadas não a inverterão. Assim sendo, porque será que apenas alguns defendem abertamente a queda do actual executivo? Porque será que a oposição à direita prefere para já resguardar-se numa suposta postura de responsabilidade? Simples: porque apesar de considerar que uma mudança de um governo totalmente desacreditado junto dos mercados se calhar até poderá acalmar os mesmos, teme que o seu eleitorado mais conservador, pouco propenso à mudança, não aprecie a instabilidade daí decorrente.
Assim sendo, a aposta da oposição à direita (sobretudo do PSD) consiste na espera. Aguarda-se a gota de água oportuna que permita começar a defender abertamente a dissolução do Governo e a convocação de eleições antecipadas. E é a esta postura que tem sido atribuído o papel de “responsável”, por oposição a posicionamentos tácticos à esquerda que (imagine-se!) preferem que o país vá já a eleições.
A táctica é algo omnipresente na actuação de qualquer força política em democracia. A resposta às aspirações do eleitorado num panorama de concorrência eleitoral assim o exige. E num momento em que o fim do ciclo político se adivinha, é natural que os partidos procurem posicionar-se para a obtenção do necessário apoio para as eleições que se seguem. Afirmar que é a táctica que preside à actuação da força política A ou B é de uma redundância aflitiva. Afirmar que os posicionamentos das forças políticas no panorama actual se dividem em tacticismo político por um lado e uma postura de responsabilidade por outro é, no mínimo, de uma tontice atroz.
Artigo hoje publicado no Esquerda.net
(Imagem: Wallpaper)
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