Daqui de Nova York eu poderia alegrar os leitores do blog e dizer que fui testemunha ocular de um momento histórico e assim rechear a sabedoria convencional com um monte de pieguismos sobre a vitória de Barak Obama. Tudo bem, foi lindo assistir às centenas de pessoas que lotaram a Times Square em noite emocionante, para eles é claro.
Que tal comentar o fandango que correu noite adentro no Harlem? Ou então dizer das lágrimas que inundaram os rostos das celebridades, a exemplo do choro do pastor Jesse Jackson, que há exatos 20 anos tentou ser indicado para a candidatura à Presidência dos Estados Unidos pelo Partido Democrata e foi derrotado nas prévias pelo racismo?
Ou dizer que notei na multidão do Grand Park em Chicago o chororô preparado de Oprah Winfrey em particular show? Aliás, pensava que o americano fosse um povo frio. O que se viu foi um espetáculo bem ao gosto do latino. No discurso de admissão da derrota, em Phoenix, o nórdico John McCain não conteve os olhos marejados e a sua vice Sarah Palin apareceu banhada em lágrimas. O fato é que a festa acabou.
Como bem disse um anúncio de campanha de Obama, a democracia não pode esperar. O novo presidente dos Estados Unidos derrubou a barreira do racismo em decisiva vitória, isso é sem dúvida um feito e tanto, mas chega de manisfestações comovidas. Barak Obama tem agora de cumprir o que prometeu. É claro, a posse só ocorre em 20 de janeiro, no entanto, a se considerar a herança maldita que vai receber do pato manco George W. Bush, ele que trate de preparar a materiazação do novo sonho americano.
A agenda é expressiva, pois foi eleito com a plataforma de acabar com a guerra do Iraque de forma responsável, liquidar a Al Qeada e capturar ou matar Osama Bin Laden, reduzir de forma substancial a dependência do petróleo, além de criar um novo marco regulatório para a economia do seu país, garantir o acesso universal ao serviço de saúde e educar a nova geração para competir no mundo globalizado.
Tudo isso deve ser feito, ao contrário do que ocorre no Brasil, com a redução de impostos, uma das promessas que fizeram a classe média branca escolhê-lo o quadragésimo quarto presidente dos EUA. Mais que isso, Barak Hussein Obama tem a missão de restaurar a autoconfiança do seu povo em liderar o mundo. Reflexo do baile: agora é que são elas. Na cidade que nunca dorme, a ordem é a mesma de sempre. Todo mundo acordou cedo para ir trabalhar neste grande império que continuará capitalista.
Demóstenes Torres é procurador de Justiça e senador (DEM-GO)