Há pouco a esperar. E lá vamos nós para um segundo semestre que tudo
indica será modesto, inseguro e, até mesmo, pífio. O Brasil e os
outros emergentes decididamente não poderão contar com a Europa, os
Estados Unidos, o Japão. E estes também não poderão contar muito mais
com os emergentes. Eles representam quase 60% do PIB do comércio
mundial e não deverão se recuperar nos próximos meses.
Os Estados Unidos usaram grande parte dos instrumentos fiscais e
monetários, mas, até agora, quando muito evitaram deflação com
recessão. O consumidor americano não reage. Só resta ao governo da
maior economia mundial investir e estimular o setor privado a investir
não na compra de títulos do Tesouro ou na bolsa, mas na produção.
Obama tentou, mas não conseguiu isso até agora.
E o Brasil? Nós vamos que vamos. Como a China que desacelera, tentando
também equilibrar crescimento com inflação, que resiste com o aumento
dos preços das commodities. O desafio de ambos é atenuar o impulso de
um crescimento excepcional no ano passado, 10%, lá, 7,5% aqui. Eles
contam ainda com o mercado externo de seus produtos industriais, nós
somente com as commodities. Onde está a novidade nisso tudo que
justifique uma coluna? A novidade é que os países emergentes,
principalmente os Brics que contavam com um mercado aquecido, podem
começar a refazer cálculos. A demanda dos emergentes ainda sustenta a
valorização das matérias-primas, mas num ritmo que só se sustenta se
houver quebra de safras e mais crise no Oriente Médio.
Uma agenda confusa e perigosa. Luiz Carlos Mendonça de Barros,
economista-chefe da Quest Investimentos, em excelente artigo publicado
sexta-feira na Folha de S. Paulo, analisa a situação. Apoia o
ex-ministro Delfim Netto - é preciso aproveitar este momento favorável
dos preços das commodities para planejar o futuro. Fabio Ramos, da
Quest, constata em estudo que a melhoria dos termos de troca do
comércio brasileiro "representou um choque de riqueza equivalente a
aproximadamente 1,6% do PIB por ano." "Precisamos usar esse ganho, que
é uma enormidade, para construir um futuro que não dependa tanto da
conjugação favorável dos astros, representado hoje pelos preços das
commodities nos mercados internacionais", afirma Luiz Carlos Mendonça
de Barros.
Não é isso o que acontece. Mas, acrescenta ele, "infelizmente quando
olhamos os seis primeiros meses do governo Dilma, não é esse o cenário
que podemos ver. Ao contrário, algumas das ações catalogadas como
prioritárias pelo Planalto nada tem a ver com essa agenda
estratégica." O que existe é "uma agenda confusa e perigosa." "E para
completar essa agenda de gastos, temos ainda o trem-bala que apesar de
algumas dezenas de bilhões de reais, não agrega um grau sequer de
maior eficiência à nossa estrutura logística", afirma Mendonça de
Barros.
A impressão geral que fica dessa e outras análises é que o governo
ainda está meio perplexo diante dos novos desafios. Mas são desafios
que, mesmo após seis meses, começam a ficar velhos devido a rapidez
das mudanças negativas no cenário interno e mundial. O segundo
semestre que se inicia agora não seria um bom momento para não perder
oportunidades que passam e rever o futuro com mais planejamento?