Os números preocupam e os países consumidores agiram nas duas frentes:
injetar mais petróleo no mercado e prometer mais vigilância com os
preços dos alimentos. No caso do petróleo, os preços recuaram, mas não
se sabe se irão se sustentar. No das commodities agrícolas, continuam
em alta.
Mais petróleo. A Agência Internacional de Energia (AIE) anunciou que
os países membros, principalmente Estados Unidos, União Europeia,
Japão e outros asiáticos (a China não a integra), irão liberar 60
milhões de barris de seus estoques estratégicos. Serão 2 milhões de
b/d por mês, a partir de julho. É uma firme e rara resposta aos países
que se recusaram neste mês a aumentar os preços, mesmo com o Brent a
US$ 115 e o petróleo leve a US$ 100.
No fim de semana, os analistas não acreditavam que o recuo dos preços
na sexta-feira - US$ 91, o leve, e US$ 105, o Brent, - seria mantido
por mais tempo, porque as empresas voltarão a comprar para refazer
estoques para o inverno nos Estados Unidos, na Europa e nos países do
Hemisfério Norte.
Mercado apertado. A própria AIE estimou que, apesar do novo afluxo,
haverá ainda uma falta de 1,7 milhão de barris por dia. Mas defende
sua decisão excepcional (só liberou estoques duas vezes. No Golfo e no
furacão Katrina). Não fosse isso, os preços do petróleo leve iriam
ficar bem acima de US$ 100 e o pesado a mais de US$ 115.
Alimentos mais difícil. No caso dos alimentos, é mais difícil. Não há
"o grande comprador" de um produto e só um grupo de fornecedores. Há
muitos produtos e países produtores e mais ainda consumidores de grãos
e carne. É uma situação adversa para os consumidores que são, ao mesmo
tempo, grandes produtores, como os Estados Unidos, Europa e até mesmo
a China. Como lutar contra a alta de preços que beneficiam seus
agricultores? Há um jogo de interesses contraditórios num mercado
diversificado e difícil de acompanhar.
Dessa forma, de pouco adiantou o tal "acordo verbal" dos ministros da
Agricultura do G-20, anunciado na sexta-feira em Paris. Eles aprovaram
um plano para aumentar a produção, dar maior transparência com nova
base de dados sobre as reservas, encerrar as restrições às exportações
de alimentos e desestimular o movimento financeiro no mercado de
commodities. Ora, ora...
Nada disso é viável. Primeiro, a safra mundial deste ano será recorde,
os estoques cresceram menos que a demanda, mas poderiam atendê-la.
Quanto ao terceiro item, contenção da especulação financeira, pouco se
pode fazer se os juros nos Estados Unidos e na Europa continuarem
baixo, empurrando os investidores para o mercado de commodities.
O argumento que os preços altos dos alimentos aumentam a fome nos
países pobres levantado na reunião dos ministros de Agricultura, em
Paris, é pouco convincente - a coluna quase dizia "honesto". Em 2008,
provocaram protestos violentos de pessoas famintas: 1 bilhão, dizem
eles. Isso pode se agravar. Afirmação falsa, no mínimo. O que faltou
em 2008 e está faltando agora não é alimento para os mais pobres, mas
uma forma mais eficiente de distribuí-los entre os famintos.
Esse é um tema que a coluna vai rever na próxima semana com o
correspondente do Estado Jamil Chade, em Genebra, com dados mostrando
que há muito alimento disponível no mundo. O que faltou e está
faltando agora é a decisão de doar em situações extremas, não vender a
preços de mercado.