No Senado, é mais fácil votar, e o que joga a favor desta versão do pacote é que ela tem medidas concretas a favor das pessoas comuns. Aumentar de US$ 100 mil para US$ 250 mil o limite do depósito que está garantido pelo fundo garantidor, o FDIC, é uma medida que a população vê como favorável a qualquer cliente de banco. O aumento do auxílio-desemprego também. Isso reduz a cara de pacote para socorrer os ricos e irresponsáveis do mercado financeiro.
A Câmara exigirá ainda um trabalho de convencimento. É mais gente, os ânimos ainda estão exaltados entre republicanos e democratas e os parlamentares ainda estão jogando para o seu eleitorado. É época de eleição, vamos nos lembrar disso.
Mas o mesmo eleitorado que estava pressionando para a não aprovação do projeto, ficou com medo com a queda da segunda-feira na Bolsa e começa a mandar mensagens para que os deputados evitem o pior na economia.
Se o pacote for aprovado nas duas casas, ele pode acalmar os mercados, mas não terminará nem a crise financeira e muito menos a crise na economia real. A recessão já está lá.
Caiu a ficha do governo brasileiro
Enfim, caiu a ficha. Depois de muita frase de efeito e muito desdém no governo, vem agora o reconhecimento de que o país precisa se preparar. Mas o governo está achando que poderá substituir todo o crédito privado para as empresas e exportadoras por crédito público. Isso não é possível. O BNDES não é um banco ilimitado. Ele trabalha com recursos do trabalhador, o FAT.
O governo está falando também em rever o orçamento para tirar de lá a previsão otimista de que a arrecadação iria subir 13%. O difícil será saber o que fazer com as despesas obrigatórias que o governo, com aumentos salariais e mais contratação, subiu em 16% no orçamento do ano que vem.
O governo quer também elevar a meta de superávit primário. Como os juros subiram, o custo da dívida será maior, e faz sentido que se aumente o superávit. Mas o governo está querendo fazer tudo ao mesmo tempo: aumentar o superávit, aumentar a participação estatal no financiamento às empresas, aumentar os investimentos públicos e reduzir o gasto – e isso numa época que a arrecadação não vai subir como subiu.
Enfim, a atitude é boa. Estava mesmo na hora de entender que a crise é grave e ninguém está protegido. Mas ainda é preciso saber o que exatamente o governo pretende fazer para reduzir os efeitos da crise na economia brasileira.