O Estado de S. Paulo - 19/10/2012 |
Bem que o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, em entrevista publicada no jornal Folha de S.Paulo, no dia 15, avisara que o Copom terá de dar explicações convincentes para o último corte dos juros, de 0,25 ponto porcentual, para 7,25% ao ano. Foi um jeito de dizer que não entendeu a lógica do Banco Central presidido por Alexandre Tombini. Como Armínio, muita gente, há tempos, procura, mas não encontra rima entre o que faz o Banco Central e as justificativas apresentadas depois. Tudo se passa como se as coisas tivessem mesmo mudado por lá, mas os dirigentes não tivessem coragem de ajustar o discurso antigo aos novos tempos. Ontem, saiu a Ata do Copom, cuja função é apresentar as razões das decisões tomadas na política monetária (política de juros). Uma leitura atenta aponta para certas inconsistências, que deixam dúvidas. Uma delas é que os juros podiam cair, como caíram, porque "restavam incertezas quanto à velocidade da recuperação da atividade" (parágrafo 33). Ou seja, a opinião prevalecente dentro do Copom é de que o PIB do Brasil pode não crescer os tais 4,0% em 2013 com que conta o governo Dilma, especialmente o ministro da Fazenda, Guido Mantega. É razão tão forte que serviu para justificar novo corte. Mas, em outros trechos (sobretudo no parágrafo 26), o Copom diz que "são favoráveis às perspectivas para a atividade econômica neste e nos próximos semestres". Em seguida, repisa essa mesma expectativa otimista: "a atividade econômica continua a ser favorecida pelas transferências públicas, bem como pelo vigor do mercado de trabalho...". Também é questionável a avaliação que faz da política fiscal do governo Dilma e seus efeitos sobre a expansão dos preços na economia. De um lado, acredita em que a geração de superávits primários (sobra de arrecadação para pagamento da dívida) ajuda a controlar a inflação (parágrafo 28). De outro, lamenta que a atual política fiscal, não mais neutra, mas "expansionista", jogue contra a estabilidade dos preços (parágrafo 35). A questão central é a de que, depois de derrubar o juro real para abaixo dos 2% ao ano, o Copom avisa - como já o fizera na comunicação liberada logo depois da reunião do dia 10 - que o ciclo de afrouxamento da política monetária chegou ao fim. Por isso, a expectativa agora é de "estabilidade das condições monetárias (juros básicos parados nos 7,25% ao ano) por um período de tempo suficientemente prolongado" - seja lá o que isso signifique... A aposta é de que as atuais pressões sobre os preços (choque na área dos alimentos) desaparecerão (parágrafo 24) e que novas não deverão aparecer. Falta saber de onde vem tanta certeza. Se aparecer, faltará molejo para enfrentá-las e o Banco Central poderá vir a ser obrigado a dar meia volta volver. O maior risco que corre a política do governo Dilma e do próprio Banco Central é que persista também durante todo o ano de 2013 o quadro atual de baixo crescimento e de inflação acima do desejável. Motivos para isso existem de sobra. O investimento se mantém pífio em consequência do alto custo Brasil e conspira contra o crescimento sustentável. E o consumo forte, puxado pelo mercado de trabalho aquecido e pelos estímulos fiscais e creditícios distribuídos pelo governo, e a perspectiva de aumento dos preços dos combustíveis não garantem, em princípio, a inflação na meta |