O rio virou pista de pouso Com os motores parados e 155 passageiros a bordo,
Desde que as torres gêmeas foram derrubadas por terroristas, em 2001, a população de Nova York passou a observar com maior atenção o sobrevoo dos aviões. Quando um deles voa baixo e se escutam sirenes, o risco de pânico é grande. Na tarde da quinta-feira da semana passada, a cidade foi surpreendida pelas notícias do pouso forçado no Rio Hudson de um Airbus A320 da US Airways com 155 pessoas a bordo. Enquanto os passageiros saíam pelas portas da aeronave e esperavam de pé nas asas para ser resgatados por barcos, os moradores lentamente se davam conta de que, em vez de uma tragédia, ganhavam uma história empolgante de heroísmo e competência profissional. Nos parcos cinco minutos decorridos entre a decolagem, do Aeroporto de La Guardia, e a descida no rio, o piloto Chesley Sullenberger, 57 anos, conseguiu controlar com perfeição uma máquina de 70 toneladas e com os dois motores em pane. Contornou os arranha-céus da Ilha de Manhattan e pousou com segurança nas águas escuras e, nesta época do ano, gélidas. Como o comandante de um navio, que é o último a abandonar o barco, ele percorreu por duas vezes o corredor da aeronave para se certificar de que nenhum passageiro ficara a bordo. Só então aceitou ser resgatado pelas equipes de socorro. Não houve uma única morte, só alguns machucados leves e casos de hipotermia.
Acidentes com aves são raros. Para que ocorram, é preciso que as duas turbinas sejam afetadas, já que com uma ainda é possível manter a rota. Uma vez que aviões voam a altitudes muito maiores do que as alcançadas por pássaros, o risco está nas aterrissagens e decolagens. As turbinas são projetadas para resistir a colisões com objetos de até 3,6 quilos. Choques com pássaros pequenos são comuns, mas imperceptíveis para quem está a bordo. Um ganso, por outro lado, pode pesar 5,5 quilos. Sullenberger, o mais novo herói americano, tem quarenta anos de voo e dirige o seu próprio escritório de consultoria sobre segurança aeronáutica. Também possui certificação em planadores, conhecimento que pôs em prática na semana passada. Além da experiência, ele contou com uma pitada de sorte. A temperatura de 6 graus negativos deixa o ar mais denso, o que facilita a sustentação do avião mesmo sem as turbinas. O outro fator de sorte foi que a aeronave partiu de La Guardia, e não de Congonhas, em São Paulo. "Se fosse daqui, em cinco minutos, o Airbus não teria conseguido sair da cidade e certamente teria caído em algum bairro", diz Carlos Camacho, diretor de segurança de voo do Sindicato dos Aeronautas. O A320 que pousou no Rio Hudson é o mesmo modelo do avião da TAM que saiu de Porto Alegre e se chocou em 2007 com um prédio ao tentar pousar em Congonhas, matando quase 200 pessoas. Os que querem os aeroportos instalados a uma distância segura dos centros urbanos ganham mais um argumento.
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