Aviação Airbus pousa no Rio Hudson e 155 pessoas se salvam
Política

Aviação Airbus pousa no Rio Hudson e 155 pessoas se salvam


O rio virou pista de pouso

Com os motores parados e 155 passageiros a bordo,
piloto americano faz pouso perfeito na água em Nova York


Duda Teixeira

Steven Day/AP
SUSTO Passageiros aguardam resgate: a água com temperatura de 6 graus provocou hipotermia

Desde que as torres gêmeas foram derrubadas por terroristas, em 2001, a população de Nova York passou a observar com maior atenção o sobrevoo dos aviões. Quando um deles voa baixo e se escutam sirenes, o risco de pânico é grande. Na tarde da quinta-feira da semana passada, a cidade foi surpreendida pelas notícias do pouso forçado no Rio Hudson de um Airbus A320 da US Airways com 155 pessoas a bordo. Enquanto os passageiros saíam pelas portas da aeronave e esperavam de pé nas asas para ser resgatados por barcos, os moradores lentamente se davam conta de que, em vez de uma tragédia, ganhavam uma história empolgante de heroísmo e competência profissional. Nos parcos cinco minutos decorridos entre a decolagem, do Aeroporto de La Guardia, e a descida no rio, o piloto Chesley Sullenberger, 57 anos, conseguiu controlar com perfeição uma máquina de 70 toneladas e com os dois motores em pane. Contornou os arranha-céus da Ilha de Manhattan e pousou com segurança nas águas escuras e, nesta época do ano, gélidas. Como o comandante de um navio, que é o último a abandonar o barco, ele percorreu por duas vezes o corredor da aeronave para se certificar de que nenhum passageiro ficara a bordo. Só então aceitou ser resgatado pelas equipes de socorro. Não houve uma única morte, só alguns machucados leves e casos de hipotermia.

Safety Realibity Methods, Inc./AP
HERÓI AMERICANO
Sullenberger, o piloto: quarenta anos de voo e experiência com planadores


A causa mais provável do acidente foi o impacto com uma revoada de gansos. O aeroporto é circundado pela Baía Flushing, onde diversas espécies de pássaro voam a alturas variadas, raramente ultrapassando 100 metros. Logo após sair do solo, o avião atingiu algumas aves. Ao que parece, o choque danificou as turbinas. À velocidade de decolagem, o impacto de um ganso corresponde à força produzida por um peso de 450 quilos sendo jogado do telhado de uma casa térrea. Quando uma das pás da turbina entorta, as demais são deformadas em efeito dominó. A aeronave ainda teve potência suficiente nos motores para atingir 1.000 metros de altura, mas a força foi se extinguindo e o piloto percebeu que não conseguiria chegar a um aeroporto nas proximidades. Alinhou o avião com o curso do Rio Hudson e desceu, levantando o bico. "Preparem-se para o impacto", avisou Sullenberger pouco antes de o aparelho tocar a água com a barriga. O avião deslizou por 600 metros sobre a superfície líquida até parar, intacto. O resgate foi feito com botes infláveis, lanchas da guarda costeira e barcos que fazem a travessia no local.

Acidentes com aves são raros. Para que ocorram, é preciso que as duas turbinas sejam afetadas, já que com uma ainda é possível manter a rota. Uma vez que aviões voam a altitudes muito maiores do que as alcançadas por pássaros, o risco está nas aterrissagens e decolagens. As turbinas são projetadas para resistir a colisões com objetos de até 3,6 quilos. Choques com pássaros pequenos são comuns, mas imperceptíveis para quem está a bordo. Um ganso, por outro lado, pode pesar 5,5 quilos. Sullenberger, o mais novo herói americano, tem quarenta anos de voo e dirige o seu próprio escritório de consultoria sobre segurança aeronáutica. Também possui certificação em planadores, conhecimento que pôs em prática na semana passada. Além da experiência, ele contou com uma pitada de sorte. A temperatura de 6 graus negativos deixa o ar mais denso, o que facilita a sustentação do avião mesmo sem as turbinas. O outro fator de sorte foi que a aeronave partiu de La Guardia, e não de Congonhas, em São Paulo. "Se fosse daqui, em cinco minutos, o Airbus não teria conseguido sair da cidade e certamente teria caído em algum bairro", diz Carlos Camacho, diretor de segurança de voo do Sindicato dos Aeronautas. O A320 que pousou no Rio Hudson é o mesmo modelo do avião da TAM que saiu de Porto Alegre e se chocou em 2007 com um prédio ao tentar pousar em Congonhas, matando quase 200 pessoas. Os que querem os aeroportos instalados a uma distância segura dos centros urbanos ganham mais um argumento.

 

 
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