BCE e China ajudam pouco - ALBERTO TAMER
Política

BCE e China ajudam pouco - ALBERTO TAMER



O Estado de S.Paulo - 09/09


Algumas notícias animadores, nesta semana. A China anunciou investimentos de mais de US$ 15o bilhões em projetos de infraestrutura para conter a desaceleração econômica e, após superar resistência da Alemanha, o Banco Central Europeu (BCE) confirmou que vai comprar títulos da dívida soberana de até três anos. Não fixou limites, mas deixou claro que serão compras de papéis dos governos mais sobrecarregados, e no mercado secundário.

Crise da zona do euro que havia voltado de férias - tudo para em agosto na Europa - recebe mais uma trégua de alguns meses. A Grécia não quebra, a Espanha vai ser socorrida e a Itália luta tentando evitar o pior, mas seus bancos já podem contar com o apoio do BCE. Pelo menos, mais um ano está passando e a zona do euro entrará no quarto ano de crise mais ou menos como começou, esperando que os governos do bloco, Alemanha, França principalmente, façam a sua parte. É o que o BCE pede e espera, até agora em vão.

Nada para a economia. Mas o socorro anunciado por Mario Draghi, presidente do BCE, deve ser considerado apenas como um socorro financeiro de curto prazo. O banco vai comprar títulos no mercado secundário e esterilizá-los. Ou seja, não injetará mais liquidez nem vai estimular o crescimento econômico. Adia-se a crise do mercado financeiro, ganha-se tempo, mas nada se faz para impedir que a economia europeia avance no caminho da recessão. Na verdade, ela decorre menos da crise da dívida soberana, em si, do que da política adotada pelos governos europeus de corte de gastos e investimentos - austeridade em meio à recessão. Isso não mudou e o BCE continua sozinho. A economia não pode contar com a Europa para crescer neste e no próximo ano. E ela representa quase 25% do PIB mundial.

Mais recessão? Sim, diz a OCDE, que alerta agora a Alemanha, o único país do bloco que ainda crescia. Ela vai entrar em recessão no segundo semestre porque sua economia depende muito das exportações para a Europa e para a China. A previsão divulgada na quinta-feira é de uma retração de 0,5% neste trimestre e 0,8% nos últimos três meses do ano. As três principais economias da zona do euro, Alemanha, França e Itália, vão recuar 0,2%. "A situação vai continuar se deteriorando, diz a organização com base nos últimos dados oficiais, com a produção industrial recuando 2,2% e o desemprego recorde de11,2% da força de trabalho. No G-7, só os EUA ainda salvam com um crescimento estimado em 2,5% este ano.

E a China chegou. Esta é a segunda boa notícia da semana. O governo chinês colocou em campo a sua cavalaria, anunciando investimentos e estímulos para evitar um PIB abaixo de 7,5%. Pode parecer muito, mas não é, se pensarmos numa população de mais de 1bilhão de pessoas que, insegura, poupa mais do consome, uma economia dependente do comércio exterior, que se retrai. Serão mais de US$ 150 bilhões em 60 projetos de infraestrutura. É menos do que os US$ 630 bilhões de 2008, mas assim mesmo representam 2% do PIB chinês. Há projetos já aprovados que podem ser iniciados imediatamente. Ao mesmo tempo, o BC chinês indica uma nova redução da taxa do depósito compulsório e da taxa de juros. Não há pressão inflacionária, ao contrário, deflação, com os preços recuando de 3,2% para 1,8% no último mês. Segredo? Subsídios generosos usando os imensos recursos que acumulou nos anos de bonança.

E aqui. No Brasil, o governo continua empurrando como pode a economia à espera que o setor privado reaja. Mais defesa para a indústria contra a competição externa, em grande parte decorrente não só de custos menores, mas de subsídio ( subsídio, sim!) da taxa cambial. Ofereceu também redução de até 28% no preço da energia elétrica para as indústrias, 16,8% para os consumidores residências, mas isso virá apenas no próximo ano. Por enquanto, é sustentar o mercado interno, onde as vendas crescem ainda mais de 6%, a massa salarial vem aumentando 5% ao ano e os juros recuam para 7,25%, com taxas reais inferiores a 2%. Não é a repetição do "modelo chinês," pois a política voltada ao fortalecimento do mercado foi implantada há oito anos. Desde então, a economia tem crescido por dentro.

Esperar o quê? Da economia mundial, muito pouco ou nada este ano. Só os Estados Unidos e a China vão ainda crescer, com o resto, Japão, zona do euro, Grã-Bretanha, beirando a recessão. Se servir de consolo inútil, a inflação média mundial continua em torno de 2% simplesmente porque não há demanda, os governos dos países que realmente pesam não investem e o desemprego só aumenta. E bem-vindo ao mundo novo dos 2% com os quais o Brasil, apesar dos seus esforços, vai ter de conviver, se preservando com reservas cambiais de US$ 370 bilhões, dívida de apenas 35% do PIB com capacidade de aumentar sem pôr em risco o equilíbrio fiscal e um comércio exterior distorcido que mais atrapalha do que ajuda.



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