O Estado de S. Paulo |
3/9/2008 |
Os números estão aí e, diante deles, ficou difícil sustentar que a atual fase do crescimento econômico sacrifica a atividade industrial porque estaria excessivamente centrada no agronegócio e na produção de matérias-primas. Em julho, a produção industrial física aumentou 1,0% sobre o mês anterior. O acumulado em sete meses foi 6,6% maior do que o obtido em igual período de 2007. Em 12 meses, a indústria produziu 6,8% a mais. É um avanço mais rápido do que o do PIB (que está rodando a 5,3% ao ano), sob condições inegavelmente adversas: é o dólar jogando contra, na medida em que tira competitividade do produto nacional; são os juros altos e, desde abril, em expansão, que aumentam o custo financeiro; é a carga tributária que não pára de aumentar; é a desaceleração da atividade produtiva no exterior, que enfraquece as exportações; e é a falta de acordos comerciais que mantém estreito o acesso aos mercados. Não dá para deixar de mencionar a concorrência predatória feita pelo produto asiático que ocorre em meia dúzia de subsetores da indústria. Como já foi apontado na coluna de ontem, no que pode, a indústria está tirando proveito para virar o jogo contra do dólar, na medida em que aumentou a importação de máquinas (que crescem 51,7% em 12 meses) e a importação de matérias-primas e bens intermediários (mais 46,8% em 12 meses). Não dá para sustentar que as importações estejam prejudicando esses dois setores. A produção de bens de capital, por exemplo, cresce 19,9% em 12 meses e a de bens intermediários, 5,6%. É tão forte a atividade da indústria que os empresários se queixam de escassez de engenheiros, técnicos de nível médio e de mão-de-obra especializada. Se alguma providência não for tomada rapidamente, teremos muito em breve um novo apagão nessa área. Essa boa fase da indústria, que está relacionada com a forte demanda interna, tem um lado ruim. É o que está sendo visto como excessivo aquecimento do consumo, denunciado não apenas pelo Banco Central, mas também pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, que parece incomodado com o alentado crescimento do crédito, de 32,7% ao ano. O efeito da alta dos juros sobre o mercado consumidor e sobre a atividade industrial ainda não foi sentido, embora os setores mais acionados (como indústria automobilística) já tenham mostrado certa redução de marcha. Ontem, o ministro Mantega avisou que a desaceleração do crédito é iminente. E é provável que o primeiro semestre de 2009 não repita o brilhante desempenho deste ano porque será preciso enfrentar certa retração da atividade produtiva global. Mas a indústria não pode olhar apenas para o curto prazo. O País está iniciando uma grande virada econômica. No mínimo, será chamado a suprir de bens intermediários e finais os novos mercados asiáticos que crescem cerca de 40 milhões de pessoas por ano. A indústria terá muito a se beneficiar dessa nova era desde que se ajuste, tenha coragem de abandonar os segmentos pouco produtivos e se prepare para operar em condições ainda mais duras do que agora.
Morde e assopra - Sabe-se lá o que realmente pensa o presidente Lula sobre a Petrobrás. Há apenas duas semanas, demonizou a empresa. Seu capital pertencia a 60% de acionistas privados ávidos pelos lucros da exploração do pré-sal. “O petróleo não é da Petrobrás, é do povo brasileiro”, avisou. Ontem, executou outra partitura. Depois de se lambuzar de óleo na plataforma P-34, no Campo de Jubarte, na Bacia de Campos, reconheceu: “Feliz é o País que tem os conhecimentos acumulados pela Petrobrás.” E arrematou: “A Petrobrás é tão importante que seu presidente deveria ser eleito.” |