O comércio externo assinala a crise O Estado de S. Paulo EDITORIAL,
Política

O comércio externo assinala a crise O Estado de S. Paulo EDITORIAL,



O Estado de S. Paulo - 03/12/2008

A balança comercial do mês de novembro exibe o primeiro sinal incontestável das dificuldades, para o Brasil, geradas pela crise financeira internacional. O resultado de US$ 1,613 bilhão é maior do que o do mês anterior, mas não pela alta das exportações, e sim pela forte queda das importações num mês em que, nos anos anteriores, estas sempre apresentaram alta significativa.

As exportações apresentaram queda de 12,3% em relação a outubro - reflexo da crise internacional, em grande parte. De 23 commodities exportadas, 17 apresentaram queda de preços - de 33%, no caso do petróleo, de 26%, no do minério de ferro, e de 21%, nos semimanufaturados de aço. Aos efeitos da redução da demanda internacional acrescentou-se o fechamento do Porto de Itajaí, responsável por 4% das exportações brasileiras. Assim, temos uma diminuição de 20,7%, em relação a outubro, nos produtos básicos, de 18,9% nos semimanufaturados e de 0,6% nos manufaturados, e a maior redução (56,6%) foi nas vendas para a China.

O que ocorre na área das exportações funciona como uma advertência sobre os efeitos da crise mundial, que devem se acentuar nos próximos meses.

A queda das importações, mais do que a das exportações, tem outro significado: mostra que o mercado está prevendo restrição ao crescimento econômico maior do que o governo supõe. No ano passado as importações haviam apresentado, na média diária de novembro, um crescimento de 7,3% em relação a outubro. Neste ano houve queda de 16,5% na média diária.

A queda dos preços internacionais do petróleo (5% do total de nossas importações), da ordem de 50,7% no mês, explica apenas em parte a redução das importações. Houve também queda de 12,9% nas importações de bens de consumo duráveis, de 12,3% nas de bens de capital e de 11,4% nas de matérias-primas e bens intermediários. É uma reviravolta total diante dos resultados dos dez primeiros meses, em que as importações de bens de capital haviam aumentado 48,6% e as de matérias-primas e bens intermediários, 45,6%.

Levando em conta que as encomendas são feitas bem antes da efetiva entrada dos produtos, isso indica que a indústria e o comércio estão prevendo forte queda da atividade em geral e não estão preparados para um Natal muito bom, a julgar pelo montante dos estoques. É total, portanto, o divórcio em relação ao otimismo do governo.




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