A crise internacional chegou à indústria brasileira. A novidade foi confirmada oficialmente um dia depois de os Estados Unidos serem declarados em recessão - já por um ano - pelo respeitado Escritório Nacional de Pesquisa Econômica. No Brasil, a produção industrial de outubro foi 1,7% menor que a de setembro, segundo o IBGE, e apenas 0,8% maior que a de um ano antes. A queda na atividade da indústria era previsível, mas não haverá recessão no País, garantiu ontem o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Há quem discorde. Segundo o economista-chefe do Banco Morgan Stanley, Marcelo Carvalho, o Produto Interno Bruto (PIB) do quarto trimestre será 0,6% menor que o do terceiro. A queda continuará, em ritmo semelhante, nos primeiros três meses de 2009, de acordo com seus cálculos.
Se haverá ou não uma contração da economia só se saberá dentro de alguns meses, mas os números da indústria divulgados pelo IBGE não permitem projeções otimistas. A produção industrial ainda cresceu 5,9% nos 12 meses terminados em outubro, puxada principalmente pela fabricação de bens de capital (19%). Também foi muito bom, nesse período, o desempenho do setor de bens de consumo duráveis (10,6%).
A produção desses bens duráveis depende muito do crédito ao consumidor, hoje bem mais limitado e mais caro do que era até setembro, quando o setor financeiro acusou os primeiros impactos da crise. A fabricação de bens de capital, isto é, de máquinas e equipamentos, depende não só do crédito de longo prazo - até há pouco oferecido generosamente pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) -, mas também das expectativas do empresariado. Essas expectativas pioraram recentemente, de acordo com pesquisa publicada na última semana pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).
A mudança de humor dos empresários não surpreende, mas o quadro provavelmente seria menos preocupante se o governo houvesse reconhecido mais cedo o risco de contágio da crise internacional e tomado prontamente, e com mais calma, medidas preventivas. Mas em Brasília a noção de um país pouco vulnerável à crise predominou até muito recentemente.
Em outubro, a produção de bens duráveis de consumo foi 4,7% menor que a de setembro. Esse resultado refletiu, em parte, a paralisação temporária das atividades em alguns segmentos, como o automobilístico, acompanhada de férias coletivas. Em alguns casos, a paralisação foi programada. Noutros, foi determinada pela piora das expectativas empresariais.
No setor de bens de capital a produção diminuiu 0,5% de setembro para outubro. Esse resultado, mais que qualquer outro, reflete a mudança de expectativas dos empresários, já que a fabricação de máquinas e equipamentos havia liderado o crescimento da atividade industrial durante muito tempo. A piora ocorrida em outubro poderia ter sido mais acentuada, se dois fatores não estivessem presentes. Primeiro, nem todos os projetos de investimento são interrompidos facilmente. Muitos são levados adiante mesmo quando o cenário se torna desfavorável, porque são importantes a médio e a longo prazos. Segundo, a produção de aviões continuou elevada, por causa da grande carteira de pedidos.
Um dos piores desempenhos foi o do segmento classificado como “outros produtos químicos”, fabricante de herbicidas e de tintas e vernizes para construção. A produção desse ramo diminuiu 11,6% de setembro para outubro. A notícia é particularmente ruim porque aponta uma diminuição do uso de insumos na agricultura. A produção de adubos, fertilizantes e corretivos de solo caiu bem menos, cerca de 1% entre setembro e outubro. Mas a queda chegou a 7,4% em 12 meses.
Na próxima semana deverá sair a primeira estimativa do PIB do terceiro trimestre. Com base nesse levantamento será mais fácil estimar a evolução da economia neste fim de ano e nos primeiros três meses de 2009.
Para 2008, a última previsão do mercado financeiro é de um crescimento de 5,2%, segundo os números coletados na última sexta-feira pelo Banco Central para o seu relatório Focus. Para 2009 está projetada uma expansão de 2,8%. Pela primeira vez o relatório indicou uma projeção abaixo de 3% para o próximo ano. O governo mantém, oficialmente, uma previsão de 4%. |