O ESTADO DE S PAULO
Quarta-feira, o Copom se reunirá para a celebração da liturgia que repete a cada 44 ou 45 dias: definir o novo nível dos juros básicos (Selic), do qual depende não só a velocidade da remarcação dos preços, mas, em grande parte, também a da atividade econômica.
No comunicado emitido após a reunião de 22 de julho, na ata divulgada oito dias depois desse encontro e também por meio das declarações não oficiais de seus dirigentes, o Banco Central passou o recado enfático de que vai fazer uma pausa estratégica e esperar para ver o efeito do afrouxamento monetário colocado em prática desde janeiro deste ano.
No entanto, há fatos novos a serem levados em conta. O principal deles é o de que a inflação mostrou que vai entrar em setembro ainda mais mansa do que entrou em agosto. É o que se consegue aferir pelas expectativas dos fazedores de preço, como mostra a Pesquisa Focus que o Banco Central realiza semanalmente com cerca de cem instituições. No fim de julho, o mercado esperava inflação de 4,53% para todo o ano de 2009. No dia 21 já havia recuado a aposta para 4,32%.
Os índices de preços vão confirmando essas expectativas. Ontem, por exemplo, a Fundação Getúlio Vargas divulgou o IGP-M de agosto e por aí se viu que a inflação assim medida está negativa (em 0,71%) nos últimos 12 meses e negativa (em 2,02%) no acumulado do ano. Como o IGP-M é um indexador (reajustador de preços) usado em um grande número de preços administrados (aluguéis, tarifas, contratos imobiliários), espera-se redução ainda mais acentuada sobre os preços futuros do varejo (custo de vida).
Isso sugere que o afrouxamento dos juros tem margem para continuar por mais tempo. Mas dá para esperar que o Copom recue da sua posição anterior e volte a cortar a Selic? Ainda que um pequeno número de analistas faça essa aposta, uma decisão assim parece muito difícil. E isso por cinco razões.
Primeira, porque o Banco Central encara com seriedade sua política de gerenciamento das expectativas. Contrariar o que sustentou antes sem preparação prévia dos espíritos é coisa que só teria condições de acontecer em ocasiões excepcionais.
Em segundo lugar, ainda que se possa argumentar que os juros básicos continuam muito altos no Brasil, o corte de 5 pontos acumulado apenas nos últimos oito meses não é nem um pouco desprezível. Faz sentido dar um tempo para ver como se ajeita a economia ao novo nível de ração monetária.
Em terceiro lugar, mesmo que se comprove a existência agora de um espaço para uma nova redução dos juros, sempre se poderia tirar esse atraso nos meses seguintes, sem prejuízos relevantes para a meta anual de inflação de 4,5%.
Em quarto lugar, tendo em vista o próprio ciclo monetário, o Copom poderá ter de voltar a puxar os juros para cima no primeiro semestre de 2010. Se isso se comprovar, o fato de ter poupado cortes agora talvez reduza o ajuste mais à frente.
E, finalmente, se esse ajuste se tornar desnecessário, cortar os juros mais à frente terá mais impacto eleitoral do que cortá-los agora. E não se pode desprezar a nova sensibilidade do Banco Central a questões políticas desse tipo.
É esperar para conferir.
Mais uma reunião do governo para decidir a nova regra dos royalties do pré-sal não trouxe acordo. Nova discussão extraordinária foi pautada para hoje.
O risco é o de que a decisão tomada nesse caso acabe sendo aplicada a outros. Royalties se pagam a Estados e municípios a título de indenização por uma riqueza perdida.
Se os royalties do petróleo tiverem de ser partilhados com Estados e municípios que nada têm a ver com isso, outros minérios também teriam de ter esse tratamento. Logo mais os gaúchos vão reivindicar os royalties do minério de ferro do Pará e de Minas.