A economia da China é um foguete. Ninguém levava mesmo a sério que o PIB crescerá apenas 8% neste ano, como projeta o governo de Pequim. Mas, também, ninguém esperava tanto. O salto no primeiro trimestre deste ano foi de 11,9%, um portento quando comparado com o resto do mundo, especialmente com o segmento dos países de alta renda, que continua devagar-quase-parando, entalado na recessão, no desemprego e nos rombos orçamentários.
Ao ritmo do primeiro trimestre, a economia chinesa dobraria em menos de sete anos. Mas ninguém espera por isso. Ao contrário, um avanço de quase 12% ao ano é indicador de superaquecimento (crescimento acima do PIB potencial) e alguma freada virá inexoravelmente.
Desta vez, não foram as exportações que empurraram o PIB chinês. E nem poderia esse ser o fator relevante desse avanço na medida em que a economia mundial segue cortando encomendas. Desta vez, foi principalmente o dinamismo do consumo interno que puxou o PIB. Em março avançou nada menos que 18% ao ano.
Esse desempenho do consumo foi induzido pelo governo da China como política anticíclica destinada a compensar com mais demanda interna a quebra de encomendas ao setor exportador. No ano passado, por exemplo, o governo de Pequim autorizou os bancos a emprestarem a seus clientes um volume recorde de 9,6 trilhões de yuans (US$ 1,4 trilhão), ou duas vezes o saldo do crédito total dos bancos brasileiros. A política de estratégia de saída já definiu um encolhimento de 19% desse valor.
O resto do mundo, prostrado pela crise, agradece a contribuição chinesa. O Brasil também tem o que comemorar porque é o dinamismo da China que vai puxando os preços das commodities e das matérias-primas, principalmente os do minério de ferro (reajustados agora perto de 100%), dos quais é um dos mais importantes fornecedores para toda a Ásia e não só para a China
As próprias autoridades chinesas admitem que o risco de inflação aumentou e que é preciso tirar o pé do acelerador. Até agora, as estatísticas não deixaram isso claro. Em março, a inflação anual, medida como evolução do custo de vida, não passou dos 2,7%, nível inferior ao esperado e que dá mais tempo para o Banco do Povo da China (banco central) começar a pisar no freio dos juros. A relativamente baixa inflação não consegue, no entanto, ocultar a formação de uma bolha imobiliária. Em março, os preços dos imóveis cresceram a um ritmo de 11,7% ao ano.
É tanta a ânsia das autoridades americanas e dos analistas econômicos dos países ricos para que a China reverta a atual política de forte desvalorização do yuan (moeda nacional) que eles começam a usar o argumento errado. Ontem, por exemplo, foram inúmeros os analistas que cobraram a derrubada nas cotações do yuan para que o crescimento da economia da China possa ser mais bem repartido com o resto do mundo. No entanto, uma valorização do yuan produziria um efeito oposto. Tenderia a aumentar tanto o salário real do trabalhador chinês como o consumo interno. Tenderia, portanto, a manter o aquecimento excessivo, fator que poderia concorrer para a esticada da inflação, o que se quer agora evitar.