Em princípio, a crise financeira deveria concentrar um punhado de coisas ruins. Mas, desta vez, além de umas tantas coisas ruins, está produzindo um punhado de surpresas boas. Uma delas é o comportamento da balança comercial.
As projeções feitas em dezembro e em janeiro apontavam para um despencamento do resultado do comércio exterior do Brasil ao longo deste ano. A pesquisa Focus, feita semanalmente pelo Banco Central, por exemplo, mostrava que, nas quatro semanas de janeiro, as cerca de 100 instituições auscultadas apostaram num superávit comercial para todo o ano de apenas US$ 14 bilhões (queda de 43%). Pois, ontem, os números do Comércio Exterior apontavam quase isso já nos primeiros seis meses do ano: saldo positivo de US$ 13,9 bilhões. Ou seja, é provável que o resultado do ano inteiro fique acima dos US$ 30 bilhões, mais do que o dobro previsto no início do ano.
São resultados impressionantes diante da grave prostração da economia mundial, período em que os países ricos, os principais importadores globais, enfrentam uma derrubada do PIB que deverá ficar entre 4,5% (na zona do euro) e 3% (nos Estados Unidos), conforme apontam as projeções do Banco Mundial.
Em 12 meses (de julho de 2008 a junho de 2009), pior fase da turbulência, as exportações brasileiras caíram apenas 1,7%, enquanto as importações cresceram 0,4%.
A principal contribuição para o desempenho do primeiro semestre está sendo dada pelo excelente comportamento da demanda (e também dos preços) das commodities agrícolas (veja o Confira). A participação dos produtos básicos no total exportado no primeiro semestre subiu de 35,3% (em 2008) para 42,0% (em 2009).
As estatísticas da Secex mostram que nos primeiros seis meses do ano o Brasil reduziu suas exportações para todos os blocos econômicos, menos para a China, para onde cresceram 42,3%. Além disso, a China passou a ser o principal parceiro comercial do Brasil e levou no semestre 14,9% das exportações.
Por irônico que possa parecer, verifica-se, mais uma vez, que o principal responsável pela baixa do dólar no câmbio interno é o exportador, que despeja no câmbio interno os dólares faturados lá fora, e não os aplicadores de curto prazo que estariam vindo para cá para especular com juros. E é justamente o exportador quem mais lamenta a valorização do real.
As estatísticas de junho ajudaram a demonstrar de onde provém a pressão sobre o dólar no câmbio interno. O Banco Central passou a ter de comprar cerca de US$ 4 bilhões por mês em moeda estrangeira, apenas para neutralizar o impacto do resultado comercial sobre a cotação do dólar.
Não dá para deixar passar em branco a forte queda das importações nos últimos seis meses. Elas foram 28,9% menores, o que reflete a queda da produção industrial e a baixa renovação dos estoques, que fica evidenciada pela redução de 32,4% na importação de matérias-primas.
Outro dado negativo a registrar é a redução (no semestre) de 13,7% das importações de bens de capital (máquinas), o que demonstra a menor disposição de investir em aumento da capacidade produtiva.
Confira
Foi por aí - Aí está o retrato da alta das commodities a partir de maio, parte das explicações para o bom desempenho das exportações no primeiro semestre. Enquanto a China seguir importando, as exportações ajudarão a afugentar a crise.