China afeta menos o Brasil Alberto Tamer
Política

China afeta menos o Brasil Alberto Tamer


O Estado de S. Paulo - 26/07/2012
 
 A economia chinesa está desacelerando. Deve crescer menos de 8% este ano, como admitem os analistas, o FMI e até mesmo o governo em gesto de excepcional transparência e franqueza. Mas o Brasil será menos atingido por essa forte retração do que os Estados Unidos, a União Europeia e o Japão porque 84% das vendas para a China se concentram em produtos básicos, e apenas 16% de industrializados. Mas a China não é importante para o comércio exterior brasileiro? Afinal, ele disputa o primeiro lugar na pauta das exportações. Para nós, sim; para ela, nem tanto porque a importação de produtos primários representa apenas 17,4% das importações chinesas. Ao mesmo tempo, as importações chinesas de produtos manufaturados representam nada menos que 72,6%! Essa concentração também se repete no que diz respeito às exportações. No primeiro semestre do ano, as exportações chinesas de produtos manufaturados representaram nada menos que 95,8% do total, com destaque para produtos mecânicos e elétricos (44,2%) e produtos de alta tecnologia (22,4%).
Se a China passar a importar menos, como vem fazendo, será não de produtos primários ou básicos, que pesam pouco, mas de industrializados dos Estados Unidos, da União Europeia e do Japão. Não vai afetar tanto o comércio exterior e o crescimento da economia brasileira. A realidade é que as exportações de produtos primários e básicos são importantes para o Brasil, mas nem tanto para a China.
Os dados surpreendem, chocam, mas são oficiais. Referem-se ao primeiro semestre do ano e foram divulgados neste mês pelo Escritório de Estatísticas Aduaneiras da China, um órgão do governo. Para surpresa geral - principalmente em Brasília -, ele informa a corrente comercial da China com o mundo, inclusive o Brasil, não se concentra em commodities ou básicos, mas em produtos industrializados.
As estatísticas oficiais, por produto, setor por setor, podem ser encontrados no site do Conselho Empresarial Brasil-China ( www.cebec.org.br), entidade que vem realizando um excelente trabalho de aproximação entre empresários e governos dos dois países. Merece todo apoio. Seu site é extremamente informativo.
Quem perde mais. Quais as consequências mais graves de uma desaceleração ainda maior da economia chinesa? Sabe-se que os canais de contaminação podem ocorrer pela via financeira, onde a China está mais bem preparada para enfrentar novos desafios. Tem reservas de US$ 3,2 trilhões que podem ser usados para sustentar seu sistema financeiro. Sabe-se também que o grande canal de contágio é o comercial. O que ela importa e exporta, o que vende e compra do mundo, dos Estados Unidos, da Europa, do Brasil e o que acontecerá se reduzir drasticamente suas importações? Para avaliar os desdobramentos deste último cenário, é importante ver o peso da China no comércio mundial. No primeiro semestre, a corrente comercial da China com o mundo foi de US$ 1,84 trilhão. Houve um aumento de 8% ante a igual período de 2011. Mas, importante, as exportações, US$ 954 bilhões, aumentaram 9,2% e as importações, US$ 885 bilhões, cresceram apenas 6,7%.
As consequências? Uma análise desses dados oficiais mostra que uma desaceleração mais forte da China pode afetar mais a economia dos Estados Unidos e da Europa do que a do Brasil, pouco dependente nessa área de vendas de produtos de maior valor agregado para o mercado chinês. Nossa dependência das commodities cria distorções, incomoda, sim, mas pesará menos no crescimento econômico. A contaminação viria a médio prazo, pois uma retração chinesa vai afetar as exportações dos Estados Unidos e da Europa, essencialmente de produtos industrializados. E, crescendo menos de 2% ou à beira da recessão, esses dois blocos certamente vão importar menos do Brasil.
É serio? A médio prazo, sim. Os Estados Unidos registram um déficit comercial com a China neste semestre de US$ 117 bilhões, todo ele concentrado na compra de industrializados, e a União Europeia, mais de US$ 184 bilhões. Déficits que só tendem a aumentar porque a China mantém sua moeda desvalorizada, importa basicamente produtos industrializados, protege seu mercado e subsidia fortemente sua indústria e as exportações, com OMC ou sem OMC.
A China quer o que todos, inclusive o Brasil, querem. Só que ela age. Os outros, não. E quando agem, são chamados de "protecionistas", como a União Europeia acusou o Brasil.



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