Ciência O desafio de prever as catástrofes
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Ciência O desafio de prever as catástrofes


Previstos, mas imprevisíveis

Os cientistas já entendem o mecanismo dos megadesastres.
Mas ainda não sabem quando vão ocorrer ou como evitá-los


Thomaz Favaro

Roger Ressmeyer/Corbis/Latin Stock
À SOMBRA DO VULCÃO
Vulcanólogo estuda a lava do Kilauea, no Havaí: pesquisas
para prever as erupções


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Quadro: Catástrofes anunciadas

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Como se formam os desastres naturais

Sessenta e cinco milhões de anos atrás, um asteroide com 10 quilômetros de diâmetro caiu na superfície da Terra. O impacto subverteu o clima global e causou a extinção dos dinossauros, que tinham dominado o planeta por 150 milhões de anos. De todas as espécies que já existiram na Terra, 99,9% estão agora extintas. Muitas delas pereceram em cinco eventos cataclísmicos, dos quais o que matou os dinossauros é o mais conhecido. A própria espécie humana esteve à beira do aniquilamento há 100 000 anos, quando uma seca prolongada na África reduziu a humanidade a não mais que 2 000 pessoas. A pergunta inevitável é a seguinte: isso pode ocorrer novamente? A única certeza a respeito desses eventos é que eles fatalmente ocorrerão de novo. A questão é: quando? Por mais que a ciência tenha avançado no conhecimento das forças envolvidas em terremotos, mudanças climáticas e movimentação dos corpos espaciais, a previsão precisa de megacatástrofes ainda está além da nossa capacidade.

O estado da Califórnia, nos Estados Unidos, cortado por uma falha geológica de 1 290 quilômetros que marca o encontro entre duas placas tectônicas, registra cerca de 15 000 pequenos abalos sísmicos por ano. Os californianos vivem à espera do "Big One", o grande terremoto que vai devastar a região. Os riscos de ele ocorrer nos próximos trinta anos são de 99%, segundo estimativas do Serviço Geológico dos Estados Unidos. No início deste mês, o governo americano destinou 5 milhões de dólares para pesquisas científicas que ajudem a prever terremotos. Outros 7 milhões serão investidos em 2010. Trata-se de um campo de estudo relativamente recente. Os terremotos só foram devidamente compreendidos há cinco décadas, quando surgiu a teoria das placas tectônicas. A ideia de que a crosta terrestre está dividida em grandes blocos que boiam sobre o magma é para os geólogos o que a teoria da evolução representa para a biologia. Os abalos mais devastadores surgem a partir do choque entre as bordas das placas e por isso têm endereço certo. Até hoje, 81% deles foram registrados no Círculo de Fogo, uma faixa em forma de arco que circunda o Oceano Pacífico.

O problema é que ainda é impossível prever quando eles vão ocorrer. Oito em cada dez alertas de tsunami, a onda gigante provocada por terremotos no leito dos oceanos, são alarmes falsos. Enquanto não é possível prevê-los, o melhor a fazer é preparar-se para o pior, reforçando casas e edifícios para resistir aos tremores. O governo do Japão se prepara há três décadas para o terremoto na região de Tokai, que os sismólogos acreditam que possa alcançar 8,4 pontos na escala Richter e ser um dos mais devastadores já registrados na história humana.

Os vulcanólogos enfrentam problema semelhante: sabe-se que a natureza emite alguns sinais que indicam uma erupção prestes a ocorrer, mas é impossível prever quando. A movimentação do magma provoca centenas de pequenos abalos sísmicos, o vulcão libera toneladas de gás carbônico e de dióxido de enxofre e a pressão dos gases sobre as rochas acaba por deformar o terreno. Há aparelhos para monitorar cada uma dessas variáveis. O Monte Redoubt, no Alasca, começou a emitir alguns desses sinais em janeiro. "Sabíamos que a erupção era muito provável, mas não havia como afirmar quando ela ocorreria", disse a geóloga americana Tina Neal, do Observatório de Vulcões do Alasca. A expectativa durou dois meses. Em março, o vulcão explodiu por três vezes, jogando no ar cinzas que formaram nuvens de 20 quilômetros de altura.

Embora assustem por seu poder destrutivo, as catástrofes naturais não estão entre as principais causas de morte (veja o quadro ao lado). Em 2008, um ano especialmente devastador devido sobretudo a um terremoto na China e a um ciclone em Mianmar, morreram 235 000 pessoas. Só uma endemia, a malária, mata quatro vezes mais pessoas no mundo. A evolução do estudo dos desastres naturais ajudou na elaboração de respostas rápidas a eles, diminuindo o número de fatalidades. Em 2007, os furacões deixaram um rastro de 6 000 mortes. Dez anos atrás, a temporada de furacões matou 25 000 pessoas. A possibilidade de uma catástrofe ainda maior, como a destruição da vida humana na Terra pela colisão de um asteroide, é pequena, mas não desprezível. Estima-se que existam 1 000 asteroides com mais de 1 quilômetro de diâmetro nas proximidades da Terra – cada um deles com o potencial de aniquilar a vida no planeta. Até 2012, três novos telescópios serão construídos para catalogar suas rotas. Mas, mesmo que a queda de um deles seja prevista, não haverá muito que fazer para impedir seu choque com a Terra.




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