Desta vez, a divulgação do recorde de contratações de pessoal ficou menos importante do que o movimento da presidente da República. Ela antecipou em um dia a divulgação dos resultados e deu-lhes boa turbinada política, pois os números não foram tudo isso que sugeriu: as 197 mil contratações no mês passado perfizeram o pior mês de abril desde 2009.
Em todo o caso, o comportamento do emprego é o único indicador econômico que o governo se permite comemorar. Não consegue entregar um pujante crescimento econômico porque os pibinhos vão se sucedendo. Também não é capaz de apresentar a inflação na meta, porque a pressão do consumo está mais forte do que a capacidade de oferta da economia. Não pode manter a desvalorização da moeda nacional (alta do dólar) para melhorar a competitividade do setor produtivo em relação aos produtos importados, porque a inflação vai comendo o câmbio real. Não conseguiu continuar a derrubada dos juros básicos (Selic) "para níveis civilizados", porque foi necessário tirar dinheiro do mercado (alta dos juros) para combater a inflação. Enfrenta a virada para o vermelho das contas externas. E ainda não pode sustentar o superávit primário (sobra de arrecadação para pagamento da dívida) combinado, de 3,1% do PIB, ou cerca de R$ 155,9 bilhões, porque o jogo político puxa por mais despesas.
Mas há esse recorde do mercado de trabalho que aponta para um desemprego de apenas 5,7% e para a contratação formal (com carteira de trabalho assinada) de 1,9 milhão de brasileiros no período de 12 meses terminado em abril, como mostra o último relatório do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).
No entanto, não dá para argumentar que esse resultado seja uma grande vitória. Há meses, o Banco Central vem advertindo em documentos e nas manifestações dos seus dirigentes que o mercado de trabalho está excessivamente aquecido, que os salários estão crescendo substancialmente mais do que o aumento da produtividade e que esse é fator importante de inflação e de aumento de custos da indústria.
Assim, a estratégia da presidente Dilma vai ficando clara. Uma correção firme de rumos da economia exigiria muita energia política, de alto risco para a corrida presidencial de 2014. Não saíram nem mesmo as minirreformas no Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) em que o governo se empenhou e tratou de empurrar para 2015, como ainda ontem avisou o líder do governo na Câmara, o deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP).
O governo já está colocando em prática a estratégia de comprar tempo, de valorizar o quanto pode os aspectos positivos da administração e de contar com que o espírito da Copa do Mundo ajude a desviar as atenções e a amortecer descontentamentos.
Como não tem discurso e não vem conseguindo apresentar opção melhor, a oposição contribui para o sucesso da nova fase do governo.