O PIB do Brasil no quarto trimestre deve encolher. É o que começam a apontar as previsões das consultorias. A MB Associados e a LCA soltaram relatórios prevendo queda no fim do ano. Na semana que vem sairá o número do terceiro trimestre e será altamente positivo, acima de 5%. O JP Morgan está prevendo que a Vale do Rio Doce terá que cortar 25% da produção.
A Vale já cortou 10% da produção, mas suas vendas estão caindo mais fortemente do que se imaginava. A China reduziu consumo, porque tem minério de ferro em estoque e porque tem a oferta de produtos australianos mais baratos. Os compradores europeus, como Arcelor Mittal, suspenderam temporariamente as encomendas. A siderurgia está encolhendo no mundo inteiro.
No Brasil, até agora distante da crise, os relatórios das consultorias econômicas começaram a prever que o quarto trimestre será de queda, ou, no melhor cenário, de estagnação, no PIB brasileiro. O curioso é que estamos vivendo o trimestre negativo, mas o número que sairá no dia 9 de dezembro, do PIB do terceiro trimestre, será altamente positivo.
O efeito sanfona no PIB acontece porque os dados do trimestre terminado em setembro ainda não refletem o agravamento da crise, que começou no meio daquele mês. Para a MB Associados, a queda será de 0,3% para o terceiro trimestre. A LCA Consultoria emitiu um relatório ontem, logo após a divulgação da queda na produção industrial, também prevendo retração. Não divulgou o número, mas acredita que virá negativo, já que o resultado da produção industrial veio pior do que os dados que ela usava para fazer as projeções do PIB. O IBGE divulgou ontem retração de 1,7% na produção industrial em outubro, comparado a setembro, enquanto a consultoria previa uma queda menor, de 0,8%. Para piorar, a sua previsão é que em novembro haverá nova queda na produção industrial, e em escala maior: -1,9% frente a outubro.
Outra que está revendo os dados é a Tendências. Eles previam uma desaceleração na produção industrial, não o resultado negativo que foi divulgado. Só que como houve queda em quase todos os setores, a consultoria já trabalha com a possibilidade de um cenário pior para a produção industrial em novembro e dezembro. E isso afetará o PIB.
- O quarto trimestre está num ritmo bem mais fraco. Se novembro e dezembro vierem também mais fracos, pode ter um crescimento zero no PIB. Já o PIB do terceiro trimestre ainda não traz os efeitos da crise - diz Cláudia Oshiro, economista da Tendências.
Se o PIB vier negativo, será a primeira retração desde o terceiro trimestre de 2005, segundo o economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale. Ele diz que a percepção é de que a produção industrial de novembro e dezembro seja ruim, o que vai puxar o PIB do quarto trimestre para baixo.
- O terceiro trimestre já é um passado distante. O cenário natural é de queda no quarto trimestre deste ano e uma leve alta no primeiro trimestre de 2009, já que os consumidores podem deixar para comprar depois do Natal e isto pode fazer o PIB crescer. A recuperação do PIB viria no segundo semestre, com o teto em 2,8% ao fim do ano - diz.
Já o cenário pessimista, que ele ainda acha prematuro, é o de queda no PIB no quarto trimestre de 2008 e no primeiro de 2009, com uma desaceleração do crescimento durante o ano todo.
- Ainda é prematuro pegar esses dados ruins de outubro e estender essa crise durante todo o ano que vem - acredita Vale.
Isso não significa que o Brasil estará entrando em recessão como outros países. Será um trimestre de queda ou de estagnação do PIB. Mas é bom lembrar que, estatisticamente, o primeiro trimestre do ano passado pode ficar negativo quando comparado com o mesmo período do ano passado. É que, no começo de 2008, o país começou a acelerar e os números foram muito bons. O ano deve ser de crescimento menor, não de recessão.
Mas há notícias preocupantes rondando a economia brasileira. A previsão do JP Morgan é que a Vale "deve cortar a produção mais do que esperava pelos próximos dois trimestres". Essa redução seria necessária para manter os preços internacionais do minério de ferro. O World Steel Dynamics divulgou que a produção global de aço deverá cair entre 10% e 15% em 2009, podendo chegar a uma retração de 22%. Para o quarto trimestre deste ano, a previsão deles é de queda de 14,7% na produção em relação ao mesmo período de 2007.
Na siderurgia, a queda nos pedidos já reduziu os preços em até 40% no mercado externo. Investimentos e projetos estão sendo adiados, o que afeta toda a produção. Só a Arcelor Mittal vai reduzir em cerca de 30% sua produção mundial no quarto trimestre e em 50% os investimentos para 2009. No Brasil, a empresa deve reduzir em 20% sua produção. A projeção da MB Associados para a produção industrial da siderurgia é de crescimento de 6% este ano e 3% em 2009. Em 2007, o crescimento do setor foi de 9,3%.
Mas se o PIB do quarto trimestre cair, essa notícia só será confirmada no ano que vem. O Natal ainda vai ser vivido sob a boa notícia do PIB do terceiro trimestre, que pode registrar um número de 5,9%. Mas, infelizmente, isso já é notícia velha. A economia mudou em outubro. |