Política
Melhora futura Miriam Leitão
O GLOBO
A previsão de uma queda de 3% na produção industrial deste ano não é uma notícia tão ruim quanto se imagina. Para fechar neste patamar, o país terá que ter recuperação ao longo do ano, ou uma redução forte da queda. O primeiro trimestre pode terminar com um tombo de 13% a 14% na produção industrial. Portanto, a previsão de -3% embute a expectativa de melhora
Na divulgação de ontem do Boletim Focus, do BC, que inclui previsões de uma centena de bancos e consultorias, a previsão ficou em uma queda de 3,06% na produção industrial no ano.
O Bradesco acha que vai ser de 3,5%. Isso parece uma péssima notícia, mas tem de ser temperada pelo que está acontecendo. Março, na opinião do Bradesco, pode ter terminado com 10% de queda na produção industrial comparado com o mesmo mês do ano passado.
Isso fecharia o trimestre com 13,9% de queda.
Nos dois primeiros meses deste ano a produção industrial caiu 17% na comparação com os mesmos meses de 2008. A produção de carros subiu forte em março e, mesmo assim, termina o trimestre com quase 17% de queda.
Alguns setores sentem a queda mais que outros, alguns estados foram mais atingidos que outros, como mostraram os dados da produção industrial regional divulgados ontem pelo IBGE. Os dois estados que mais caíram no primeiro bimestre foram Minas e Espírito Santo.
Em parte, isso é o que aconteceu com a siderurgia, que sofreu uma devastação neste começo de ano.
— O aço está na base de várias cadeias industriais das manufaturas e de transformação.
Por isso, sente o impacto de forma instantânea — diz José Armando Campos, ex-presidente da ArcelorMittal no Brasil, hoje no conselho do grupo.
O país tem 14 altos-fornos, seis estão desligados. A Usina Siderúrgica de Tubarão, no Espírito Santo, tem três fornos e desligou um; a UsiminasCosipa tem cinco e está com três parados. A GerdauAçominas tem dois e está com um parado, a CSN tem dois e desligou um. Normalmente, o setor trabalha com 85% da capacidade instalada ou mais, só que no primeiro trimestre de 2009 usou apenas 47% da capacidade. Vendeu, no mercado, 48% menos e a exportação caiu 52%. As vendas para a América Latina, que é a região mais importante de destino das exportações brasileiras de aço, foram 76% menores.
— A América Latina é a região mais aberta ao produto exportado pela China.
A Europa identificou subsídio e os Estados Unidos impuseram direitos compensatórios (sobretaxa) ao produto chinês — diz José Armando, preocupado com a ideia do presidente Lula de fazer um comércio bilateral nas moedas nacionais dos dois países, o que facilitaria a capacidade da China de subsidiar o produto que exporta.
José Armando acha que ao longo do ano, na virada entre o segundo e o terceiro trimestre, a situação pode melhorar.
— Este primeiro momento foi de desestocagem. Depois virá a recomposição de estoques e, quando acontecer isso, as nossas vendas melhorarão — diz ele.
O Departamento Econômico do Bradesco registrou, no seu último boletim, que, na verdade, a maioria dos analistas está intrigada com o fato de a queda da demanda não ter sido tão forte assim, o que deveria ter reduzido os estoques.
"Em nossa opinião, a queda acentuada das exportações, desde o último trimestre de 2008, ajuda a explicar essa disparidade." A demanda interna teve um choque, caiu bastante, mas no começo deste ano já começou a melhorar, o que ainda não afetou a produção industrial, que continua em queda forte. "Apesar de a demanda externa representar apenas 30% da produção brasileira, o comércio exterior sempre ajudou a formar expectativas." O banco acredita que haverá uma "aceleração considerável nos próximos trimestres". O banco acha que "essa aceleração será puxada pela demanda doméstica, sustentada pelo crescimento da massa salarial, mas só será viável com a contribuição de alguma retomada das vendas externas daqui para diante".
Se não houvesse essa recuperação e continuasse no mesmo ritmo de fevereiro, isso produziria uma queda de produção industrial no ano de mais de 13%, o que ninguém está prevendo.
Portanto, a produção industrial será menor que em 2008, mas a queda será reduzida até o fim do ano.
A MB Associados está mais pessimista, acha que a a produção industrial vai cair 4,5% este ano. Mas, para isso, acha que, depois dos 17% de queda no primeiro bimestre, a produção ficará até novembro, em média, 3,4% menor que no mesmo período do ano passado, e em dezembro sobe 10% na comparação com dezembro de 2008, que foi horrível. Aí, termina em 4,5% de queda.
Há quem esteja bem mais pessimista. O CSFB acha que o PIB de 2009, em vez de cair 0,2%, que é a mediana das previsões do Focus, vai cair 2%. De qualquer maneira, os relatórios dos bancos e as conversas com empresários e com analistas mostram que a maioria acredita que o ano melhorará ao longo dos próximos meses. Não se pode dizer que o pior passou, mas é melhor saber que 2009 vai melhorar nos próximos meses, que o contrário.
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