A crise chegou ao Brasil por vários canais. Em alguns deles, o Banco Central começou a agir. Ela chegou fechando o mercado de crédito que trazia empréstimos externos para financiar exportadores. Para isso, o Banco Central avisou que emprestará dólares das reservas a bancos para que eles reemprestem para essas empresas exportadoras.
O problema é que não é um buraco pequeno. As empresas recebiam os dólares adiantados, meses antes de embarcar. Com esse dinheiro, aplicavam aqui dentro e ganhavam muito dinheiro com os juros. Só que as exportadoras adiantaram tanto que mercadoria que vai ser exportada daqui a quatro meses, por exemplo, já está paga e o dólar não vai entrar.
Outro problema que assusta o mercado é que muitas empresas fizeram operações financeiras no mercado futuro de câmbio. Elas se comprometeram a entregar o dólar a um preço definido. Por exemplo, a R$ 1,70. Apostavam que o dólar não subiria e agora terão um enorme prejuízo quando forem cumprir os contratos.
Essas empresas terão que comprar caro para entregar a um preço mais baixo. Quanto a isso, segundo me informou uma fonte do governo, não há muito o que o Banco Central possa fazer. Essas empresas não terão ajuda.
A falta de crédito provocada pelo fim das linhas externas fez com que os bancos grandes parassem de emprestar aos pequenos. Na semana passada, o governo liberou dinheiro para os bancos grandes ajudarem os pequenos. Ainda não funcionou e, por isso, a medida provisória de ontem cria as condições para que o Banco Central ajude os pequenos bancos e evite um problema mais grave.
Na economia real, eu falei com várias empresas sobre planos de investimentos. Elas não estão ainda anunciando suspensão, mas várias admitiram que estão pondo seus planos em banho-maria, esperando melhores tempos.
Parece que as pessoas não confiam mais nos bancos lá fora. A crise se espalha pelo mundo de forma rápida e contamina a economia real. Há esses dois motivos de preocupação: de um lado, bancos e instituições financeiras do mundo inteiro que vão sendo atingidos, porque outros foram atingidas. É o contágio. É a intensidade das relações financeiras entre bancos de vários países. Por outro lado, os sinais de recessão se espalham.
No Brasil, sempre se achou que a China seguraria o crescimento mundial, mas lá na China eles estão preocupados. O comércio da China com os Estados Unidos é de US$ 300 bilhões. O primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao, deu uma entrevista nos Estados Unidos admitindo que há muita ligação entre o mercado financeiro americano e o chinês. Ele, que tem US$ 1 trilhão de reservas e taxa de poupança de 40% do PIB, disse que está preocupado com a crise. Até a China.