A crise de energia, de gravidade dissimulada pelo governo, promete se transformar num dos principais flancos da presidente Dilma Rousseff na disputa eleitoral. Ainda explorada aquém de seu potencial negativo, é o primeiro fato concreto cujo efeito no bolso do consumidor já não pode ser maquiado.
Embora os efeitos da má gestão não ocorram ainda este ano em que a eleição será realizada, o repasse para o eleitor da dívida gerada com o setor elétrico está anunciada pelo governo para 2015. Anula a redução populista feita um ano antes e projeta custo maior para o ano seguinte.
Equivale a dizer ao cidadão que o primeiro ano de mandato do futuro governo começará com um aumento que, a rigor, deveria vir desde já. Será apenas adiado para que o custo eleitoral não seja avassalador.
Há outras bombas, de maior ou menor porte, programadas para 2015, tantas são as maquiagens nas contas públicas. Mas elas encontram blindagem eleitoral no reducionismo que as veste – o ajuste fiscal. Expressão genérica, seus detalhes passam ao largo da avaliação mais detida do eleitor.
Mas a conta de luz, não. Ela é imediatamente absorvida como um daqueles custos que vão fazer a diferença na rotina geral , num ambiente econômico que já passou mais despercebido pelo consumidor.
Além do aumento da conta, haverá a necessidade de aumento de impostos, conforme já antecipou o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Não disse quais, nem quanto, mas não deixou margem a dúvidas: serão maiores.
A imagem recorrente utilizada pelo governo para minimizar os efeitos eleitorais dos maus resultados da economia – a de que não há risco se não afetar o bolso do consumidor – começa a desbotar.
Não é difícil localizar imagens da presidente Dilma Rousseff, ainda ministra das Minas e Energia, em 2003, a declarar que o país tinha 17% de excesso de energia. Se o tinha, há 10 anos, hoje o quadro é de escassez, que o governo agrava pela inconveniência eleitoral de mobilizar a população para um consumo mais racional da energia.
A oposição não tem um aumento para atacar o governo, mas tem seu anúncio pelo próprio governo, para 2015. Ou seja, daqui a dez meses.